terça-feira, 20 de março de 2012

Lá e de volta outra vez

"Agora vejo em parte, mas então veremos face a face" (São Paulo na 1ª carta aos Coríntios 13:12, cantado por Renato
Russo em Monte Castelo)

A vida às vezes é engraçada...
Algumas vezes eu parecia ter entrado num turbilhão de acontecimentos, mas na verdade não era nada disso, o que aconteceu
é que eu havia escolhido o ângulo errado e tudo ficou distrorcido.
Outras vezes, as coisas pareceram tão simples, tão simples que eu achava que podia carregar na palma da mão, mas não era
nada disso, o que eu via era só a ponta do iceberg.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pula!

"Eu defendo, não ofendo" (Padre Zezinho SCJ)

Eu precisava ir ao mercado e já estava cega, só estávamos em casa eu e meu irmãozinho, outros cegos que eu conheço
tomariam uma iniciativa mais independente e iriam fazer suas compras sozinhos, eu, porém, conhecendo as ruas sem
calçadas indevidamente pavimentadas que circundam a casa da minha mãe, também deficiente de qualquer espírito heróico ou
desbravador, decidi encarar a orientação do nosso caçulinha de dez anos.
O menino agia como se aquilo fosse uma brincadeira, toda vez que chegávamos a uma elevação ou declive,
independente do tamanho, ele gritava:
- Pula!
Obviamente que eu me dava mal, tropeçava ao invés de subir e escorregava ao invés de descer.
Muitos palavrões me vieram à boca, que logo foram recriminados por minha consciência: "ele já tem maus exemplos de
impaciência e grosseria, não seja mais um". Contudo [com paciência ou não] eu tinha que fazer alguma coisa, e tinha que
ser logo, porque eu já estava ficando sem dedão.
No meio do caminho, depois de outro animado "Pula!", eu estanquei no mesmo lugar olhando furiosa para o meu irmão.
Como fazer ele parar com isso? Como explicar sem parecer chata? Como fazer para não parecer uma megera? Qualificar,
deduzir, grandes explanações, "não faz assim queridinho", essas coisas não funcionam com meninos marotos. Nessas
situações ele estava acostumado a levar gritos e safanões, atitudes que eu não queria lançar mão. Então, como fazê-lo
mudar?
Impaciente, porém ainda se divertindo, meu irmão gritou:
- Pula!
Eu, atônita, sem saber o que fazer fiz exatamente o que ele mandou: pulei.
- Não! Pula!
Ao que eu obedeci.
- Não!!! Pula! Pula! Pula!
Pulei. Pulei. Pulei.
- Deda! Você não ta fazendo direito! Pula!
Pulei outra vez.
- Dé! Não! Pula!
Mais um pulinho.
- Dé! Sobe o degrau!!!