quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Doação que é fardo

Tem uma coisa que é super difícil de administrar quando na condição de pessoa com deficiência: a caridade que
atrapalha ao invés de ajudar. A caridade mentirosa, a caridade falsa, a caridade maquiada, a boa intenção oportunista. A
intenção que é cheia de bondade e sem embasamento também, a boa vontade cheia de atuação mas sem diálogo algum, a ajuda
que não pergunta, às vezes até a homenagem que humilha, a lembrança que constrange.
Engraçado que enquanto eu lia Padre Zezinho falando sobre bananas, os colegas da sala falavam sobre o mesmo
assunto quanto à caridade exagerada de Natal. A comparação veio a minha mente faiscando. Mais engraçado ainda é que se
eu aplicar os mesmos argumentos que os ouvi proferindo com tanto fervor nos erros que eles cometeram comigo, ou até
outros que passaram por aqui, a ruim sou eu, ruim e ingrata, difícil é explicar para eles que se o doente que precisa de
um remédio X recebe o remédio Y e morre, não adianta justificar o erro do médico com suas boas intenções. Difícil
conseguir convencer alguém que, apesar da atitude ter sido concebida num num bom coração, se ela não atingir o objetivo,
ou pior, atingir um objetivo mal concebido, a titude vai atrapalhar e pode até machucar. Difícil ponderar entre noção de
ingratidão e prejuízo. Difícil ficar como que refém da bondade que é maquiada ou impensada, a primeira vem de má gente,
a segunda de gente destrambelhada. E a mais difícil de todas as interjeições é pensar que tudo se resolveria com um
diálogo educado e ponderado.

Abaixo o texto do Pe Zezinho retirado do site dele www.padrezezinhoscj.com.

AS CONTAS DO CÉU

No episódio da mulher que deu duas moedas para o templo; na parábola do fariseu que orgulhava-se de pagar o dízimo
e em duas outras parábolas, Jesus fala da falsa justiça e da falsa caridade. Fala a favor do que deu muito do pouco que
possuía e contra o que deu pouco do muito que possuía, mas ainda assim se gabou de ser pessoa boa.
Poderíamos juntar às parábolas de Jesus, a do bananeiro rico, empreendedor esperto, que descobriu que naquele
imenso vale, plantar bananas exigia poucos cuidados e dava enorme lucro. Reservou extensa parte de suas terras e plantou
bananas. Contabilizava-as por lotes.
Um dia, gabou-se entre os amigos de ter para colher um milhão de cachos de banana:mercado garantido. Uma
tempestade derrubara o telhado da ala infantil do hospital local, que era conduzido por freiras italianas. A paróquia
assumiu a tarefa de recobrir o telhado e ampliar a ala. O pároco lembrou-se, então, do fazendeiro. Pediu-lhe uma doação;
ele disse que pensaria e daria a resposta em uma semana. Daria dois caminhões carregados de mil cachos de bananas.
O padre jovem fez as contas e pensou. "-Ele tem mercado garantido". E continuou o raciocínio. Se o bananeiro
vendesse aquelas toneladas para o mercado garantido e desse o dinheiro, faria um grande favor. Mas, ao querer
descarregar mil cachos de banana no pátio das irmãs, deixando a elas a tarefa de vendê-las, estava desperdiçando
bananas; as freiras não tinham como vender tudo aquilo. Assim, não era caridade; além do mais, mil cachos de bananas
estavam longe de ser generosidade. Se do que produzia, o fazendeiro tivesse dado o dinheiro equivalente a cem mil
cachos, teria dado 10%, se tivesse dado dez mil teria dado 1%. Ao dar mil e daquele jeito tinha dado 0,1%.
Foi ao escritório, agradeceu muito a oferta e disse que não teria como administrar aqueles mil cachos de bananas.
Não era oferta, era fardo! O fazendeiro o achou grosso, indelicado, mal educado, mal agradecido. Os comerciantes e
industriais da cidade entenderam o padre. Nunca mais se falou no assunto, mas à boca pequena corria entre todos os
fazendeiros, empresários e funcionários a notícia da oferta do fazendeiro plantador de bananas.
Pessoas que ganham 1 milhão por mês e dão mil a dez mil reais para uma obra de caridade, certamente deram mais que
nada. O que deram foi alguma coisa, mas não passou disso: alguma coisa. Não se proclamem caridosos ou generosos porque
não são. Estão longe de parecer aquela pobre que deu duas moedas para o tesouro do templo.
Nos dias de hoje, uma pobre que desse R$ 200,00 reais para uma obra social, teria dado 20 vezes mais do alguns
milionários dão. É que, na hora de repartir o cacho de bananas, de 100 bananas, o pobre é capaz de dar 10 ou 20; o
milionário com sua mentalidade de acumular, é capaz de dar 2 ou 3. A maioria não dá 2% do que lucra por mês. Neles, o
verbo acumular prejudica o verbo ajudar. O que eles não sabem é que o céu também sabe fazer contas!

Limpando o armário

Não é bem o armário, verdade é que é a caixa de backup de e-mails. Coisa estranha a princípio, porque é geralmente
lá que as coisas esquicidas ficam.
Verdade é que elas não foram bem bem bem esquecidas, fica um eco na cabeça, daqueles bem desaforados, lembrando
vez ou outra que existem, como fazer-de-conta não é lá meu forte [os ateus que não me escutem], então resolvi encarar o
Bicho Papão de frente. E não foram só monstrinhos que saíram de lá, também cobras, lagartos, palhaços [urgh!]. Tem
aqueles e-mails que não assustam, entristecem só, os dois tipos, porém, fizeram com que eu me deparasse com o mesmo algo
novo: o deleite da tecla DELETE.
Também tem coisas muito gostosas, como declarações de amor [minhas pra ele, dele pra mim], rabiscos de planos
executados, conversas com novos amigos, conversas com velhos amigos, serviços que caíram na minha mão, serviços que eu
joguei na mão dos outros. Conquistas grandes, conquistas pequenas. Projetos com começo,meio e fim; projetos que não faço
idéia de quando vão terminar; projetos que morreram antes de saírem dos bits dos e-mails. Muitas receitas culinárias,
livros, cursos, músicas; registros de encontros para ir à restaurantes, teatros, cinema, ou mesmo lá em casa para um
jantarzinho sábado a noite.
E, mesmo daquilo que me lembro sentindo um calorzinho gostoso no coração, eu me desfiz... e até isso proporcionou
algum prazer, um frescor, uma leveza, deve ser a sensação da renovação.
Daquilo que gostei e não desapeguei, só mudei de lugar... engraçadinho, coisa boba, tirei de um armário para
colocar em outro.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Noite e dia

Se o inferno for mesmo frio, silencioso e escuro como eu acredito...
Se a felicidade for mesmo uma antecipação do paraíso...
De dia brisa quente e surf no mar,
De noite iceberg de silêncio, ilha de solidão.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Solidão

Pode vir minha amiga, vamos conversar.
Vem cá, Solidão, você eu sei que não falha.
Se aprochegue, se sente, pode ficar a vontade e se esparramar, o que
não falta é lugar...

Recebi a News leter da BBc com a notícia: Menino de sete anos aprende
a andar com máquina criada pelo pai. Mecânico de carros de Buenos
Aires ouviu dos médicos que seu filho nunca conseguiria caminhar.
O vídeo está em:
http://www.bbc.co.uk/go/portuguese/em/txt/-/portuguese/videos_e_fotos/2011/11/111116_menino_aparelho_dg.shtml

Sinto falta disso... sinto falta de milagre, de ouvir milagre, de
falar milagre, sem vergonha, sem pudor, sinto falta de gente que
acredita... crer parece verbo que ninguém mais conjuga... às vezes é
tão pesado, gostaria de mais alguém com quem compartilhar.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Trabalhando no limite

O limite da equação realizações menos sonhos merece uma análise diária, o ideal é que o resultado tenda a zero
[admitindo, é lógico, que nenhuma das variáveis tenda também a zero, nem ao infinito].
O risco do resultado ser negativo é um baita mau humor, ombros doloridos e enxaqueca. Valores médios podem
acarretar discuções escandalosas por motivos insignificantes [observação: normalmente confundido com TPM],
exemplifica-se por violência verbal e/ou atitudinal. Se tender a menos infinito, prepare-se que lá vem medicação
psiquiátrica controlada... é nessas horas que os sonhos viram pesadelos.
Resultados positivos indicam automação de processo, quando em baixo valores e de forma contínua, as consequências
chegam no longo prazo, geralmente com sotaque alemão. Em médios valores podem acarretar A Síndrome de Passar o Domingo
Inteiro de Pijama, que pode ser acompanhada de sensações de vazio e solidão. Caso os valores tendam a mais infinito, há
o risco da presença de sintomas que podem acarretar sequelas permanentes, como o esquecimento do filho bebê trancado no
carro, atropelamentos, entre outros eventos com valores que indiquem movimento e/ou tomada de decisão.