quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Como lidar conosco

Mudei de área aqui na Copel e decidi fazer uma apresentação para quebrar o gelo com dicas sobre o convívio de
pessoas com e sem deficiência visual. O texto original é do MAQ, mudei pouquíssima coisa e o Gian me ajudou com as
figuras. A apresentação tem bem mais texto do que o aceitável, mas isso é de propósito, visto que a intenção é muito
mais instrutiva do que apresentativa, como se fosse um folder. Fiquei muito feliz com o resultado, onseguimos deixá-la
pedagógica e engraçadinha.

A apresentação está hospedada em:
http://www.slideshare.net/GessicaMichelle/como-lidar-conosco-10715310

O texto na íntegra do MAQ está em:
www.bengalalegal.com.br/lidar

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tragédias e cotocos de madeira

A cegueira é feia, não tem nada de poético, nem de belo, nada de bom que se aproveite. 
A cegueira é uma tragédia, não importa quando é que aconteça, se na atrofia das retinas do bebê
que ficou na incubadora, se no rapaz que levou um tiro, se como brinde da diabetes, se concequência da cataratas ou do
glaucoma. A cegueira é tragédia como paraplegia, como a perda de um ente querido, como prédio que desaba ou navio que
naufraga.
Porém tragédias acontecem o tempo todo e quando a maturidade chega ninguém é mais café-com-leite, os meus amigos e
parentes queridos vão se afastar, vão morrer, vão me desapontar, independente das feridas ou da profundidade das feridas
que eu carrego no peito ou das deficiências que eu levo no meu corpo.
Eu tenho que aprender a administrar a cegueira
suportando-a com todo o resto que tem de bom, para que quando as tragédias do cotidiano cheguem, eu seja capaz de me
manter de pé.
Além do que, ou adiquire-se nova capacidade de ver os milagres também oferecidos pelo cotidiano, ou a feiura vai tomar conta e, daqui
a pouco, até o que era colorido desbota e a vida perde toda graça.
É mais ou menos assim, se o navio virar, afundar e não sobrar nenhum sobrevivente além de mim, eu vou me agarrar no primeiro cotoco de
madeira que aparecer, eu não vou ligar de onde é que ele veio, vou ser grata e colocar minhas esperanças naquele pedaço
de madeira e sobreviver.
Ser grata pela sobrevivência oferecida pelo cotoco não significa que ele virou o cruzeiro dos
sonhos, muito menos que o mar não vai ter ondas, nem que a solidão, a fome, a sede e o desespero não não se dissipar.
Ser grata pelo que me ajudou a sobreviver é simplesmente usar o que me restou para continuar sobrevivendo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ainda sobre doação que é fardo

Quando o cego Bartimeu gritou pela misericórdia de Jesus Cristo, Jesus perguntou a ele o que ele queria, parece
coisa inútil, normalmente a gentileza parece mesmo, mas não é.
A gentileza não é inútil e nem é excesso, gentileza é à medida que respeita o mistério que o outro é e só o tempo
é capaz de revelar, tempo expresso tanto numa conversa quanto numa vida toda. Conversa de cunho simples que pode ter
início com um simples "o que queres que eu te faça?", ou, em outras palavras, "posso te ajudar?".
Gentileza é a extrapolação da boa educação, a boa educação vem do treino, da rotina, das palavrinhas bem
calculadas e adequadas à situação. Boa educação tem haver com empatia, gentileza tem haver com a admissão de que a
empatia é impossível, porque mais que tentemos nos colocar no lugar do outro, a verdade é que nós não fazemos idéia do
que se passa com ele.
Tem gente que diz que é difícil chegar à obediência do Senhor quando ele diz tantas repetidas vezes "Seja como
Eu", "Ama a Deus acima de todas as coisas, ama teu próximo como a ti mesmo", mas isso é uma incongruência se levarmos em
conta que ele também diz "o meu fardo é leve", também às palavras dos Gênises quando é afirmado que nós já somos imagem
e semelhança de Deus.
Como eu acho que dá pra nós nos achegarmos a Deus? Com gentileza, e só. Como é que eu acho que conseguimos chegar
a esse nível de santidade? Sei não... mas desconfio que o diálogo é um ótimo começo.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Doação que é fardo

Tem uma coisa que é super difícil de administrar quando na condição de pessoa com deficiência: a caridade que
atrapalha ao invés de ajudar. A caridade mentirosa, a caridade falsa, a caridade maquiada, a boa intenção oportunista. A
intenção que é cheia de bondade e sem embasamento também, a boa vontade cheia de atuação mas sem diálogo algum, a ajuda
que não pergunta, às vezes até a homenagem que humilha, a lembrança que constrange.
Engraçado que enquanto eu lia Padre Zezinho falando sobre bananas, os colegas da sala falavam sobre o mesmo
assunto quanto à caridade exagerada de Natal. A comparação veio a minha mente faiscando. Mais engraçado ainda é que se
eu aplicar os mesmos argumentos que os ouvi proferindo com tanto fervor nos erros que eles cometeram comigo, ou até
outros que passaram por aqui, a ruim sou eu, ruim e ingrata, difícil é explicar para eles que se o doente que precisa de
um remédio X recebe o remédio Y e morre, não adianta justificar o erro do médico com suas boas intenções. Difícil
conseguir convencer alguém que, apesar da atitude ter sido concebida num num bom coração, se ela não atingir o objetivo,
ou pior, atingir um objetivo mal concebido, a titude vai atrapalhar e pode até machucar. Difícil ponderar entre noção de
ingratidão e prejuízo. Difícil ficar como que refém da bondade que é maquiada ou impensada, a primeira vem de má gente,
a segunda de gente destrambelhada. E a mais difícil de todas as interjeições é pensar que tudo se resolveria com um
diálogo educado e ponderado.

Abaixo o texto do Pe Zezinho retirado do site dele www.padrezezinhoscj.com.

AS CONTAS DO CÉU

No episódio da mulher que deu duas moedas para o templo; na parábola do fariseu que orgulhava-se de pagar o dízimo
e em duas outras parábolas, Jesus fala da falsa justiça e da falsa caridade. Fala a favor do que deu muito do pouco que
possuía e contra o que deu pouco do muito que possuía, mas ainda assim se gabou de ser pessoa boa.
Poderíamos juntar às parábolas de Jesus, a do bananeiro rico, empreendedor esperto, que descobriu que naquele
imenso vale, plantar bananas exigia poucos cuidados e dava enorme lucro. Reservou extensa parte de suas terras e plantou
bananas. Contabilizava-as por lotes.
Um dia, gabou-se entre os amigos de ter para colher um milhão de cachos de banana:mercado garantido. Uma
tempestade derrubara o telhado da ala infantil do hospital local, que era conduzido por freiras italianas. A paróquia
assumiu a tarefa de recobrir o telhado e ampliar a ala. O pároco lembrou-se, então, do fazendeiro. Pediu-lhe uma doação;
ele disse que pensaria e daria a resposta em uma semana. Daria dois caminhões carregados de mil cachos de bananas.
O padre jovem fez as contas e pensou. "-Ele tem mercado garantido". E continuou o raciocínio. Se o bananeiro
vendesse aquelas toneladas para o mercado garantido e desse o dinheiro, faria um grande favor. Mas, ao querer
descarregar mil cachos de banana no pátio das irmãs, deixando a elas a tarefa de vendê-las, estava desperdiçando
bananas; as freiras não tinham como vender tudo aquilo. Assim, não era caridade; além do mais, mil cachos de bananas
estavam longe de ser generosidade. Se do que produzia, o fazendeiro tivesse dado o dinheiro equivalente a cem mil
cachos, teria dado 10%, se tivesse dado dez mil teria dado 1%. Ao dar mil e daquele jeito tinha dado 0,1%.
Foi ao escritório, agradeceu muito a oferta e disse que não teria como administrar aqueles mil cachos de bananas.
Não era oferta, era fardo! O fazendeiro o achou grosso, indelicado, mal educado, mal agradecido. Os comerciantes e
industriais da cidade entenderam o padre. Nunca mais se falou no assunto, mas à boca pequena corria entre todos os
fazendeiros, empresários e funcionários a notícia da oferta do fazendeiro plantador de bananas.
Pessoas que ganham 1 milhão por mês e dão mil a dez mil reais para uma obra de caridade, certamente deram mais que
nada. O que deram foi alguma coisa, mas não passou disso: alguma coisa. Não se proclamem caridosos ou generosos porque
não são. Estão longe de parecer aquela pobre que deu duas moedas para o tesouro do templo.
Nos dias de hoje, uma pobre que desse R$ 200,00 reais para uma obra social, teria dado 20 vezes mais do alguns
milionários dão. É que, na hora de repartir o cacho de bananas, de 100 bananas, o pobre é capaz de dar 10 ou 20; o
milionário com sua mentalidade de acumular, é capaz de dar 2 ou 3. A maioria não dá 2% do que lucra por mês. Neles, o
verbo acumular prejudica o verbo ajudar. O que eles não sabem é que o céu também sabe fazer contas!

Limpando o armário

Não é bem o armário, verdade é que é a caixa de backup de e-mails. Coisa estranha a princípio, porque é geralmente
lá que as coisas esquicidas ficam.
Verdade é que elas não foram bem bem bem esquecidas, fica um eco na cabeça, daqueles bem desaforados, lembrando
vez ou outra que existem, como fazer-de-conta não é lá meu forte [os ateus que não me escutem], então resolvi encarar o
Bicho Papão de frente. E não foram só monstrinhos que saíram de lá, também cobras, lagartos, palhaços [urgh!]. Tem
aqueles e-mails que não assustam, entristecem só, os dois tipos, porém, fizeram com que eu me deparasse com o mesmo algo
novo: o deleite da tecla DELETE.
Também tem coisas muito gostosas, como declarações de amor [minhas pra ele, dele pra mim], rabiscos de planos
executados, conversas com novos amigos, conversas com velhos amigos, serviços que caíram na minha mão, serviços que eu
joguei na mão dos outros. Conquistas grandes, conquistas pequenas. Projetos com começo,meio e fim; projetos que não faço
idéia de quando vão terminar; projetos que morreram antes de saírem dos bits dos e-mails. Muitas receitas culinárias,
livros, cursos, músicas; registros de encontros para ir à restaurantes, teatros, cinema, ou mesmo lá em casa para um
jantarzinho sábado a noite.
E, mesmo daquilo que me lembro sentindo um calorzinho gostoso no coração, eu me desfiz... e até isso proporcionou
algum prazer, um frescor, uma leveza, deve ser a sensação da renovação.
Daquilo que gostei e não desapeguei, só mudei de lugar... engraçadinho, coisa boba, tirei de um armário para
colocar em outro.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Noite e dia

Se o inferno for mesmo frio, silencioso e escuro como eu acredito...
Se a felicidade for mesmo uma antecipação do paraíso...
De dia brisa quente e surf no mar,
De noite iceberg de silêncio, ilha de solidão.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Solidão

Pode vir minha amiga, vamos conversar.
Vem cá, Solidão, você eu sei que não falha.
Se aprochegue, se sente, pode ficar a vontade e se esparramar, o que
não falta é lugar...

Recebi a News leter da BBc com a notícia: Menino de sete anos aprende
a andar com máquina criada pelo pai. Mecânico de carros de Buenos
Aires ouviu dos médicos que seu filho nunca conseguiria caminhar.
O vídeo está em:
http://www.bbc.co.uk/go/portuguese/em/txt/-/portuguese/videos_e_fotos/2011/11/111116_menino_aparelho_dg.shtml

Sinto falta disso... sinto falta de milagre, de ouvir milagre, de
falar milagre, sem vergonha, sem pudor, sinto falta de gente que
acredita... crer parece verbo que ninguém mais conjuga... às vezes é
tão pesado, gostaria de mais alguém com quem compartilhar.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Trabalhando no limite

O limite da equação realizações menos sonhos merece uma análise diária, o ideal é que o resultado tenda a zero
[admitindo, é lógico, que nenhuma das variáveis tenda também a zero, nem ao infinito].
O risco do resultado ser negativo é um baita mau humor, ombros doloridos e enxaqueca. Valores médios podem
acarretar discuções escandalosas por motivos insignificantes [observação: normalmente confundido com TPM],
exemplifica-se por violência verbal e/ou atitudinal. Se tender a menos infinito, prepare-se que lá vem medicação
psiquiátrica controlada... é nessas horas que os sonhos viram pesadelos.
Resultados positivos indicam automação de processo, quando em baixo valores e de forma contínua, as consequências
chegam no longo prazo, geralmente com sotaque alemão. Em médios valores podem acarretar A Síndrome de Passar o Domingo
Inteiro de Pijama, que pode ser acompanhada de sensações de vazio e solidão. Caso os valores tendam a mais infinito, há
o risco da presença de sintomas que podem acarretar sequelas permanentes, como o esquecimento do filho bebê trancado no
carro, atropelamentos, entre outros eventos com valores que indiquem movimento e/ou tomada de decisão.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mais de Napoleon Hill

"Quantos dedos tem aqui?" (Patch Adams)

No filme Peter Pan, quando a Sininho trai o Peter, a autora justifica a atitude da fadinha explicando que as fadas
são pequeninas demais pra comportar mais de um sentimento... Penso que isso não se limite às fadas.
Os sentimentos, quando são demais, afogam. Os pensamentos também.
Quem se ocupa demais com a derrota, não dá espaço pra vitória. Quem pensa demais na doença não dá chance pra cura.
Quem se concentra demais na pobreza não se permite enriquecer.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ser vela

Há muitos homens que eu admiro: Jesus Cristo, Buda, Mahatma Gandhi, Beethoven, Padre Leo... infelizmente são
pessoas que não estão mais nessa terra. Eu os admiro pelo mesmo motivo, são homens que conseguiram retirar algo de bom
de uma coisa ruim. Jesus Cristo da morte, retirou a ressurreição. Buda, do sofrimento, o entendimento. Mahatma Gandhi,
da violência, a paz. Beethoven, da surdez, a Nona Sinfonia. Padre Leo, do câncer, a esperança.
Há pouco, questão de meses, conheci as obras do Padre Zezinho, tinha ouvido falar dele antes, mas a curiosidade
não despertava, quando assisti uma entrevista dele para o Papo Aberto (canal Canção Nova, apresentação do Gabriel
Chalita), eu simplesmente me apaixonei.
O Padre Zezinho tem esse dom, essa coisa que eu admiro e que busco, ele observa qualquer coisa, coisa pequena e a
riqueza que ele tem dentro de si é tão imensa que faz daquela coisinha insignificante uma outra coisa incrível.
Eu sempre quiz ser grande, mas não grande no conceito físico, ou monetário, ou no sentido de fama. Sempre quiz ser
gente assim como o Padre Zezinho, que leva consigo a medida, a palavra certa, o jeito que combina. Percebi ainda na
adolecência que pra ser grande assim do jeito que eu quero é preciso ser pequena, por esse motivo dentre muitos outros
que a admiração que tenho pelo Padre Zezinho só faz aumentar, ele diz "escolhi ser 'Zezinho' porque prefiro ser
pequeno", diz "a mensagem é mais importante que o mensageiro".
Desde que fiquei cega vez em quando eu repito pra mim mesma a mesma pergunta, faço a mesma oração, "o que é que eu
posso fazer de bonito com essa deficiência?", como é que eu vou chegar a minha velhice e poder dizer a mim mesma "da
escuridão, consegui retirar a luz?", a resposta é sempre a mesma, "eu não sei". Agora, lendo Padre Zezinho, a pergunta
ecoa muito mais, ele diz "seja como a vela que derrete mas continua a brilhar", diz isso e aquilo, quanto mais eu leio,
mais conheço, mais o admiro e mais me questiono.

domingo, 23 de outubro de 2011

Violinistas no telhado

Fui convertida um pouco mais nessa última sexta-feira.
Podia-se ouvir a música logo a porta da capela, falando sobre gratidão, salvação, e o amor de Deus. Quando nós nos aproximamos do Elias eu o abracei e disse que lamentava e que gostaria de dizer algo a ele, ele me respondeu "Deus deu um milagre a ela, ela estava sofrendo, acontece com todo mundo, vai acontecer com a gente também". Meu Deus, o viúvo me consolou!
Nós nos afastamos um pouco para que as outras pessoas pudessem se aproximar, a cantoria continuava, quando eles paravam de cantar eu também parava de chorar, mas quando eles começavam eu inevitavelmente chorava de novo e pensava comigo "que gente é essa que louva a Deus num velório?"
O sentimento geral era de tristeza, mas eu também fiquei constrangida, lembro do filme Fiddler on the Roof, da primeira cena quando Teve diz que a Tradição mantém o povo em equilíbrio, assim como o violinista toca bem e ao mesmo tempo se equilibra no telhado. Eu assisti ao marido e aos amigos que sofrem com a morte da Dulce equilibrar-se quando a tristeza enfraqueceu as suas pernas e ao mesmo tempo arranharam a realidade da morte arrancando alguma beleza através da fé.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O mistério da fé

"Os maiores milagres de Aparecida são espirituais. Nós, padres, o sabemos. Tenho visto poucas pessoas jogarem muletas no chão e saírem triunfantes. É mais templo de oração do que de prodígios. Também não vejo os padres e pregadores a incentivar isto. Mas os confessionários estão sempre cheios. Outra vez, vale a expressão de Romano Gardini, repetida pelo papa Bento XVI: 'essencializar a vida'. O que seria o essencial em Aparecida? Penso que aqueles olhares e aquelas conversas de povo simples, dirigidos a Jesus e à sua mãe. O espetáculo de Aparecida e que ali nada é espetacular. Os fiéis não vão lá para ver milagres. Vão lá para orar". (Padre Zezinho)

Uns poucos anos atrás, viajei com meu [naquela época] namorado e a família dele para Aparecida do Norte. Viajamos com aexcurção da igreja dele, partimos sexta-feira à noite e retornamos domingo à noite. Quando partimos de Curitiba, o clima estava ameno, o verão já havia chegado e o frio havia dado uma trégua, porém uma brisa agradável se mantinha. Talvez por causa da temperatura, senti a diferença de Curitiba e Aparecida do Norte na pele, lá a cidade estava quente, insuportavelmente quente, vez em quando eu precisava sentar e respirar e repetir para mim
mesma "não desmaie não desmaie não desmaie".
Começamos o passeio sábado pela manhã, conhecemos as ferinhas de rua, a cidade e a igreja do Frei Galvão e passeamos pelo mini shopping ao lado da basílica. Abri mão de conhecer alguns lugares, os lugares mais íngremes pra ser mais específica.
A missa na igreja do Frei Galvão foi muito bonita e sóbria, ao contrário do que eu esperava, não havia escândalos e nem exageros da parte do sacerdote, nem da parte dos romeiros. Infelizmente, eu e meu namorado discutimos quando retornamos de lá e o efeito esclarecedor da missa e do que me apercebi quanto à cidade passou.
A discussão, o calor, a multidão, o comércio religioso, o comércio não religioso... Tudo contribuía para afiar as minhas críticas e polir meus argumentos desaforados guardados ao que eu chamava "manipulação de massa". Como por respeito à religião da família do meu recente namorado, preferi ficar calada e não proferir todo meu desprezo.
Os lugares seguintes que visitamos foram o mostruário da imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Sala dos Milagres e a Sala das Velas. Quando começamos descer uma rampa, o meu coração palpitou forte como quando se leva um susto, como ninguém me chamara, continuei a andar. Aconteceu de novo, eu respirei fundo e pensei comigo que não podia ser o calor porque lá estava fresco, nem fome porque já havíamos comido, muito menos cede porque eu estava sempre com uma garrafa d'água, concluí que se acontecesse novamente eu falaria com meu namorado para pararmos e descansarmos um pouco, mesmo a contragosto, porque eu ainda estava brava com ele. Então aconteceu uma terceira vez, mas não deu tempo de falar nada porque eu já estava chorando, tentava formular as frases, mas o meu coração se apertava em protesto, à voz engasgava e eu chorava mais. Finalmente quando consegui respirar fundo, perguntei a ele "você pode, por favor, me explicar porque é que eu estou chorando?", ao que ele respondeu "todo mundo está chorando", "Por quê?", "porque a gente ta bem na frente da Santinha", "mas eu não consigo definir o que é que eu estou sentindo", "é assim mesmo, o Espírito Santo faz isso com a gente".
Eu já era cega naquela época. Eu não sabia onde eu estava, eu não sabia que a imagem da Santa estava lá, eu não sabia que as pessoas estavam chorando, eu não compartilhava daquela crença, eu nem ao menos estava prestando atenção, visto que estava mergulhada nos meus próprios etassuntos.
Eu me orgulhava de mostrar a todos que era forte, independente, lógica, ponderada. Eu procurava por respostas, quando eu estava só eu implorava a ajuda de alguém, mas eu não procurava lá, eu não acreditava e não merecia. Mesmo assim, naquele dia, eu fui apresentada a um Amor que eu não conhecia, eu ainda não entendo, ainda não tenho respostas, não tenho vocabulário pra traduzir o que é que aconteceu comigo, o que eu sei é que uma porta se abriu e vai se manter assim, pra sempre.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Aparelhos de ar condicionado

"Durante dezesseis anos, eu aprendera a não olhar, a não ver, a não tentar encontrar coisa alguma. Outra pessoa qualquer
sempre encontraria as coisas para mim. Ninguém, nem mesmo eu, acreditou que um dia eu viesse a enxergar. Mas agora meus
olhos estavam cheios de janelas e condicionadores de ar, e meu cérebro começava a funcionar de maneira diferente". (Meir
Schneider)

O que atrapalha no meu corpo é a alergia, conjuntivite alérgica pra ser mais específica. A alergia causa coceira
nos olhos, fotofobia, falta de lágrimas e lacrimejamento (pois é...). A coceira andou de mãos dadas com o ceratocone, o
que me levou ao transplante das duas córneas. O uso prolongado de corticóides na tentativa de controlar a alergia
desenvolveu umas leves cataratas e elevou gradativamente a pressão ocular. A pressão já alta mais os transplantes
causaram picos de pressão que escavaram os nervos óticos. Agora, vira e mexe, uma inflamação ou outra, causadas pela
alergia, acompanhadas de um bichinho levam a processos infecciosos que deixam minhas córneas opacas e meus nervos óticos
cansados.
Quanto à manutenção do glaucoma mais a alergia durante os processos inflamatórios, num aspecto, é uma brincadeira
de estica e puxa: se eu não uso corticóides, os olhos inflamam; se eu uso, a pressão aumenta.
Noutro aspecto, a elevação da pressão coloca o resíduo que eu tenho em risco. O que eu tenho de visão permite que
eu distinga algumas cores, alguns contrastes, cada vez que passo por uma crise inflamatória as imagens ficam um pouco
mais desbotadas (visto que a lesão causada no nervo ótico não escurece o campo visual da periferia para o centro, mas
sim, embranquece de dentro pra fora).
Eu ainda não sei como curar o problema da alergia, mas, quanto aos nervos cansados, já aprendi a dar um jeito.
O jeito são os exercícios de visão intercalados chamados "palming" e "piscamento". Palming trata-se de sentar-se
numa cadeira em frente a uma mesa e repousar os cotovelos confortavelmente em almofadas ou livros, de modo que a postura
fique reta, as palmas das mãos (limpas) devem ser repousadas levemente sobre os olhos fechados. Piscamento é o exercício
de piscar várias vezes seguidas conscientemente, normalmente entre um Palming e outro.
O palming relaxa os nervos óticos, como eu sou glaucomatosa só posso fazer o exercício cinco minutos de cada vez.
O piscamento relaxa os músculos ao redor dos olhos e melhora a sua lubrificação.
Normalmente, eu consigo ver a melhora no outro dia. No mesmo dia, apenas se recebo uma massagem na nuca e no couro
cabeludo, já tentei as auto massagens, mas não causam o mesmo efeito. O meu ponto de referência preferido é o aparelho
de ar condicionado que fica em frente a minha mesa de trabalho. É um daqueles aparelhos quadrados, grandões, que ficam
pendurados na parede. Quando eu estou numa crise, a imagem do aparelho quase não existe, se faço de duas a três horas de
exercícios, no dia seguinte a imagem aparece distinta o suficiente para eu saber que ele existe.
Na verdade eu não vejo o aparelho de ar condicionado, mas eu sei que aquela coisa mais ou menos quadrada e escura
na branquidão da parede é um aparelho de ar condicionado. E conseguir distinguir aquela geringonça me desperta um
alívio, uma esperança, é um bálsamo de uma coisa que apenas aqueles que passam por exercícios de reabilitação conseguem
entender.

Sylvia Lakeland

Graças a Deus minha mãe assistiu ao programa Mais Você num dia de 2009, quando a Sylvia Lakeland [1] apresentou o
seu trabalho e contou a sua história.
Eu pesquisei sobre a Sylvia na Internet e consegui marcar uma entrevista com ela num dia que ela veio palestrar em
Curitiba. Foram os noventa minutos mais saudáveis para os meus olhos em doze anos. Estava um dia de sol e eu não estava
fotofóbica e não precisei usar óculos escuros. Naquela época, A pressão nos olhos rodeava os 16, no mesmo dia eu me
consultei com a Oftalmologista e ela a tingiu oito. E tanto a a aparência dos olhos estava melhor.
Ela me ensinou os exercícios básicos: sunning palming, piscamento, shifting e swinging. Orientou a respeito das
auto massagens e da posição do corpo durante os exercícios. Também me falou sobre o prazer em ver, em olhar, em enxergar
e sobre ter uma visão saudável.

Meier Schneider

A Sylvia conheceu o Meir Schneider [2] quando estava cega, porém com resíduo de visão, e, através dos exercícios
que aprendeu com ele, recuperou a visão em 4 anos.
O Meir, por sua vez, aprendeu os exercícios com um garoto que o ensinou o método do Dr. Willian Bates. Meir nasceu
cego, porém tinha um resíduo de visão, hoje, espalha o seu próprio método por todo o mundo. Quanto à visão, bem, ele
enxerga o bastante para dirigir.

[1] www.lakelandsylvia.com.br
[2] www.self-healing.org.br

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vocação pra ser feliz

"Há um céu que começa em cada um de nós / Há uma escolha e um desafio / Há uma promessa, um desejo / Em seu coração Deus
espera por você / Há um céu que começa em cada um de nós / Há uma vocação e um chamado / Há uma pergunta, uma resposta /
Em seu coração Deus espera por você" (Banda Dom)

O único motivo de eu estar nesse mundo é ser feliz. Tudo está certo, é aqui que eu estou e é aqui que eu começo.
Se eu estou certa? Deus que me conte quando eu voltar pra Ele, por enquanto me basta acreditar. E enquanto o objetivo
[de ser feliz] se mantém cumprido e essa pouca gente que me cerca também está feliz no processo... eu continuo.

Existe vida após o braile

A loja de cubo mágico de SP me respondeu com um "vamos entrar em contato com nossos fornecedores". Dei uma olhada
nuns poucos resultados do Google e o máximo que encontrei é um protótipo cujas faces tem inscrições em braile diferentes
ao invés de cores... todo branco... Por quêêêêê?! Existe vida após o braile! Essa não é a última fronteira! E por quê
essa mania monocromática quando o assunto é deficientes visuais?
Eu não estou vendo, mas isso não é sinônimo de feiura. Eu sou cega, estilosa, inteligente e gata! Não sou um
resumo de mim. Eu sou inteira! Não me faço resumo de mim. Vivo plenamente! Não represento um resumo de mim. Eu sou
completa!
Eu quero um cubo mágico colorido, fofo, criativo, divertido e não uma prótese social com um cartaz neon pendurado
piscando "brinquedo de cego". Vou dar mais uma olhadinha na web, se não encontrar, vou fazer um eu mesma.

Convivência

Você me conhece mais do que eu penso.
Eu te conheço mais do que você imagina.
O que a gente não conta, brota, acontece, imerge.
Esse jeito de conhecer acontece perto da medida da permissão, mas ainda mais próximo da medida da convivência.
Essa coisa não é paixão... Mas o gosto lembra.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Minha sugestão tecnológica para a questão lições com desenhos versus aluno DV

O portal de matemática respondeu a minha indagação a respeito de softwares de ensino de matemática que facilitem a
vida do aluno DV com um redondo não.
A-OK!
Vamos voltar à imaginação.

No post anterior eu esbocei minha idéia a respeito de um plugin para representação de equações, agora é a vez dos
gráficos e diagramas.

Gráficos com HP49g+

Antes dos meus olhos adoecerem mais e eu não conseguir escrever, desenhar e usar a calculadora, eu cheguei a ter
uma HP49g+, nela dava para inserir equações e ela plotava o traçado da curva.

Gráficos com o multiplano

Ao perder a visão, o Prof Rubens Ferronato foi contatado, ele é o inventor do multiplano, o Prof Ivan Coling o
chamou para esclarecer os professores a respeito de como é ensinar a um aluno DV e ensinar-nos como usar a nova
ferramenta. O multiplano é uma placa preenchida com furos e com os eixos cartesianos representados por duas linhas
pontilhadas. Com taxas plotam-se valores e com elásticos traçam-se curvas.
Para mim foram fornecidos três deles, um mais ou menos do tamanho de uma folha A4 e outro maior de mais ou menos 1
m de lado, mais um circular de 10 cm de diâmetro que tem uma base que pode ser encaixada em outros multiplanos
simétricos.
Para a universidade foram fornecidos dois de 1 m de lado, um simétrico e outro dilog.
O Prof Ferronato também me mostrou uma outra invenção, uma manta imantada, onde ele fixava pequenas placas de
acrílico também imantadas com inscrições em tinta e em braile.
Eu questionei o Prof Ferronato a respeito da representação de sólidos e no nosso segundo encontro ele me
apresentou a solução, no multiplano pequeno ele encaixou perpendicularmente duas placas unidas também
perpendicularmente, ficou como o chão de uma sala com o canto e as duas paredes. Ele me demonstrou unindo varetas com
chanfros simétricos como faria para representar sólidos ou pontos com três coordenadas.
Pois então... Fiquei babando nesses dois últimos... Como eram apenas protótipos ele não quis me fornecer... Mesmo
eu insistindo.

Na resolução de exercícios, como Por exemplo, para plotar a curva f(x) = x para x = zero até x = zero no meu
multiplano menor, eu encaixo uma taxa onde as linhas pontilhadas se encontram, conto 10 furos para a direita seguindo a
linha horizontal e 10 para cima, aí encaixo outra taxa, finalmente uno as duas taxas com um elástico.
No decorrer do curso, era bom com equações de patamares periódicos, degraus e outras que não tivessem curvas, mas
quando era preciso representar senóides, exponenciais... Enfim, curvas com curvas, a escala do multiplano não
satisfazia.
Também era ótimo para diagramas de física mecânica e outras representações com vetores, mas ficava limitado quando
eu tinha de desenhar diagramas elétricos.
Uma coisa que também atrapalhava era o fato de não poder registrar a informação.

Linha braile

Existe um dispositivo chamado linha braile, é um periférico que é conectado no PC e sintetiza braile na sua
superfície. Por exemplo, se aqui no blog eu der um Ctrl + home, o cursor vai para o topo da página e o meu sintetizador
de voz vai dizer o nome do blog, se eu estivesse usando uma linha braile, a sintetização seria escrita em braile.

Sugestão

A minha idéia, como anteriormente, é (1) desenvolver um plugin complementar a editores de textos conhecidos como
Word e Writer.
Tal como na calculadora HP49g+ que eu tinha, a entrada poderia ser feita inserindo uma equação (1) ou os (2) valores das
coordenadas. Também seria possível inserir (3) diagramas vetoriais e (4) (diagramas elétricos).
O plugin permitiria (5) a visualização das equações através da sintetização de voz e (6) a visualização gráfica
através da sintetização braile.
Também da mesma forma da sugestão anterior, seria possível a inserção dos desenhos através de (7) teclas de atalho
e de (8) uma lista classificatória.
Outra semelhança é o default de ser trabalhado com sintetizadores conhecidos como JAWS e NVDA para Windows e HORCA
para Linux.

Por exemplo, o filtro passa faixa tem o diagrama do circuito, a equação de transferência direta, e o gráfico da
resposta em frequência.
O circuito é o conjunto série de uma fonte de tensão alternada Ve, um indutor L, um capacitor C e um resistor R; a
saída Vs está no resistor.
A equação de transferência direta é dada por Vs/Ve = (R/L)s/[s² + (R/L)s + (1/LC)].
O gráfico teórico é um patamar V que começa em x = 0 e que se mantém até uma frequência de x = f1, neste ponto ele
cai a zero até uma frequência x = f2, quando volta ao valor do patamar anterior.

Se eu tivesse o plugin em mãos, seguiria os seguintes métodos para inserir o diagrama do circuito e o gráfico:

Diagrama:
1 - Pressionando a combinação de teclas Ctrl + De, o usuário especifica que quer inserir um diagrama elétrico;
2 - Uma caixa de diálogo "Inserir diagrama elétrico" é aberta, nela existe um campo de edição, o sintetizador diz
"Inserir diagrama elétrico";
3 - O usuário digita (Eca; L; C; R);
4 - Uma mensagem aparece, tem três botões, "Detalhar", "Inserir" e "Cancelar", o default está em "Inserir", o
sintetizador diz "Inserir";
5 - Com o Tab o usuário vai até "Detalhar";
6 - Uma caixa de diálogo é aberta com quatro campos de edição, cada um é um elemento do circuito;
7 - O default está no "Eca", nesse campo o usuário digita Leg = Vê;
8 - Em L, Leg = L;
9 - Em C, Leg = C;
10 - Em R, (Vs; Leg = R);
11 - O usuário vai até o "Inserir" com o Tab ou tecla Enter;
12 - O desenho do diagrama é gerado e o sintetizador diz "Diagrama elétrico de um circuito em série de uma fonte
de tensão alternada v e, indutor l, capacitor c, Resistor r, com a saída em r", na linha braile o diagrama é plotado com
linhas pontilhadas para representar os fios, as letras eca para a fonte alternada, l para o indutor, c para o capacitor,
r para o resistor e uma outra linha com a as letras vs indicando a saída;
13 - Como nas abas de planilhas do Excel, com Ctrl + pgUp ou Ctrl + PgDown, o usuário navega entre o desenho do
diagrama, a função que o determina e os detalhes.

Gráfico:
1 - Com Ctrl + glc, o usuário especifica que quer inserir um gráfico literal fornecendo as coordenadas;
2 - Uma caixa de diálogo "Gráfico ponto a ponto" é aberta, nela há vinte campos de edição, dez para valores de x e
dez para valores de y;
3 - O usuário fornece as coordenadas (zero, V), (f1, 0), (f2, V);
4 - Vai com Tab até inserir e tecla "Enter";
5 - O desenho do gráfico é gerado e o sintetizador diz "gráfico literal com V para x igual a zero, zero para x
igual a f1 até f2, quando volta ao valor de v", na linha braile o gráfico é traçado com linhas pontilhadas e as letras
braile para as legendas dos eixos e os valores de x e y;
6 - Como na inserção de diagramas, o usuário tecla Ctrl + pgUp e Ctrl + PgDown para navegar entre o desenho, a
guia de edição de coordenadas e a guia detalhes.

O registro de um capítulo da diciplina de Princípios de Controle de Servo Mecanismos feito tanto para quem é DV
quanto para quem não é, sem cola, sem barbante, sem discriminação.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Minha sugestão tecnológica para a questão ensino de cálculo versus aluno DV

Enviei um e-mail para um portal de matemática perguntando a respeito dos avanços dos softwares para auxílio de aprendizado de cálculo para quem não enxerga. Enquanto espero a resposta, vou contando a minha idéia do que eu acho que seria um software que realmente ajudaria o aluno deficiente visual a aprender matemática.

(1) Acho que é mais fácil fazer um plugin como complemento do que já existe do que criar uma coisa nova, assim (2) a edição pode ser feita num editor de texto mesmo, um Word ou Writer da vida. (3) Tem que prever o reconhecimento e a tradução de caracteres que já existam no corpo do texto em formato de figura ou entradas que já tenham sido feitas com outro plugin como o Equation do Word, por exemplo.
(4) As entradas seriam semelhantes a da ferramenta Equation da calculadora HP48g (49... 50...), o que quer dizer que o operador pode ser inserido antes ou depois dos valores. (5) O usuário teria a possibilidade de inserir os caracteres e operadores através de teclas de atalho ou de uma lista classificatória, como é feito na inserção de funções do Excel.
Daqui em diante começam os elementos para a sintetização de voz admitindo uma lógica similar àquela para a sintetização de voz já usada para a leitura de textos com editores comuns do Windows ou Linux mais os softwares de leitura existentes como JAWS, NVDA ou HORCA.
(6) O plugin teria que identificar a diferença entre letras e operadores, reconhecer, por exemplo, quando o usuário estivesse usando a letra sigma maiúsculo ou o operador de somatório; a letra "f" seguida da letra "x" entre parênteses ou "efe de xis". (7) A posição dos operadores teria que ser indicada, como os limites de integração de uma integral ou o numerador e o denominador de uma divisão.

Por exemplo, quando eu estava na faculdade, se um exercício pedisse a área de uma curva f(x) = x² - 3x + dois, eu resolveria a integral definida I [um; dois] (x² - 3x +dois) dx. Acontece que "I [um; dois] f(x) dx" não é a representação de uma integral definida.

Se eu tivesse o plugin que idealizo em mãos, seguiria o método:
1 - Pressionar as teclas Ctrl + i para inserir a função "integral definida", ao fazê-lo o sintetizador diz "Integral definida";
2 - Ao pressionar a seta para baixo ou para cima os campos de limite inferior e superior ficam abertos para edição;
3- Quando a seta para baixo é pressionada o sintetizador diz "limite inferior", ao pressionar a seta para cima ele diz "limite superior";
4 - Editar o limite inferior com um, o superior com dois;
5 - Depois dos limites editados, ao pressionar a seta para baixo, o sintetizador diz "limite inferior igual a um", com seta para cima "limite superior igual a dois";
6 - Ao pressionar a seta para direita habilita-se o campo de edição da função da curva;
7 - Ao pressionar seta para direita de novo o campo fica desabilitado e o sintetizador diz "dx";
8 - Pressionar seta para esquerda para entrar novamente no campo de edição da integral definida;
9 - Digitar a letra x, a tecla de atalho Ctrl + dois depois hífens, três, asterisco, x, mais, dois;
10 - Se voltar com seta para a esquerda o campo de edição da curva será lido até o primeiro x, elemento a elemento, a leitura do sintetizador é "x, ao quadrado, menos, três, vezes, x, mais, dois";
11 - Com o cursor no primeiro elemento da equação, ao pressionar seta para a esquerda, o sintetizador diz “limite superior igual a dois “e o campo fica aberto para edição;
12 - com seta para esquerda de novo o sintetizador diz “integral definida de um a dois de x ao quadrado menos três x mais Dois dx”.

Facilitaria para o aluno DV que não precisaria inventar uma representação nova, facilitaria para o professor que não precisaria traduzir a linguagem alienígena do aluno, facilitaria para os colegas com os quais o aluno faria os trabalhos.

O presente perfeito

Tenho a maior vontade do mundo de brincar com um cubo mágico, pra mim, esse seria o presente perfeito. Enviei um
e-mail para uma loja virtual especializada na venda do brinquedo cuja sede fica em São Paulo. Será que a solução para
quem não enxerga são adesivos em alto relevo? Será que eles respondem? Será? Será? Será?!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Doce sim, podre não

"Leonard:... mel atrai mais moscas do que vinagre.
Sheldon: esterco mais ainda, e daí?" (The Big Bang Theory)

É certo e comprovado que a única forma de atrair aqueles que nos elevam é a procura em ser maior; e para ser bom, é imprescindível, no mínimo, ter boa educação. Em contra partida, um espírito sem vontade própria apodrece. Um ser humano que diz sim a tudo e a todos não consegue fazer o próprio caminho e se é incapaz de tomar decisões a respeito de si mesmo nunca vai saber a que veio a esse mundo.
Não é oito, nem 80. Ser doce sim, ser podre não. Conversar sim, concordar não. E discordar não significa semear discórdia.
Aceito que devo sempre ouvir aqueles que são mais experientes e que é mais fácil pautar algumas escolhas pela experiência anterior, mas também sei que o senso comum, às vezes, dita regras de desalento por pura inércia. Tenho consciência que idéias novas balançam alicerces, mas também sei que alicerces fracos balançam por qualquer coisa.
Se não insisto nos meus próprios objetivos, não vai me eximir da culpa e não vai diminuir a minha frustração pensar que não fiz o que quis fazer porque "tentei agradar", ou porque "tive medo do que os outros poderiam falar". Afinal, a minha felicidade é responsabilidade só minha.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Noves fora

"Quem disse que isso era impossível? E que grandes vitórias tem você a seu crédito para julgar os outros com exatidão?"
(Napoleon Hill).

A de se cuidar com quem se denomina especialista. A de se cuidar com quem se diz com razão. Reforço sempre que o
bem de uma palavra amiga não deve ser subestimado, mas a de se cuidar não só do que se diz, como também do que se ouve.
Toda gente tem uma história e, em demasiadas vezes, a mágoa e a desilusão que essa história provoca, supera a
visão, o conhecimento e até mesmo o bom senso.
Em "Comer, Rezar, Amar", Elizabeth Gilbert cita Santo Antônio: diz-se que o Santo estava jejuando no deserto e
anjos lhe apareceram - às vezes com formas de anjos, às vezes com formas de demônios -, demônios também lhe apareceram -
às vezes com formas de demônios, às vezes com formas de anjos -; o Santo sabia diferenciar quem era anjo e quem era
demônio pelo modo que ele ficava depois das aparições.
É certo que no mesmo coração que foi plantado trigo, também foi plantado joio... É uma pena. Como é que faz pra
saber se a pessoa está nos oferecendo trigo ou joio? Pois é... Sei não. Eu sou gente também, isso também se aplica a mim
e não sou santa pra identificar as situações com precisão. Soma-se à caixinha de surpresas que o próximo é, com o
despreparo como eu estou... Noves fora... Sobra a questão: foi ele quem me ofereceu algo ruim ou fui eu quem não soube
receber?
Como eu não leio mentes, mãos ou bola de cristal, acho que é mais sensato não julgar.
Sem resposta exata, a conversa sempre me pareceu a melhor aproximação, quando o diálogo civilizado demonstra-se
improvável, tento abreviá-lo, do contrário, troco experiências da forma mais ponderada possível. Dá certo sempre? Claro
que não, vez em quando tenho que exercitar o dom da paciência e da sobriedade e ouvir... e ouvir... e ouvir. Mas,
olhando ao meu redor [noves fora de novo], acho que tenho me saído razoavelmente bem.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sonhar me faz um bem...

"... o sonho é a força que faz a vida ser real..." (Padre Fábio)

A única coisa que eu fiz a vida inteira foi sobreviver. Engraçado, porque quando paro pra pensar... Até que eu cheguei longe. Como é que eu fiz? Bem, o filho estudante de publicidade da minha professora de mobilidade inventou o jargão "sou cego, não nego, enxergo quando puder", adotei a frase como filosofia de vida. O corpo que eu tenho é esse, a minha história é essa e é daqui que eu começo.
Contudo, sempre olhei para minhas vitórias como pessoais, sem prestígio, não coleciono troféus, não me vejo como uma competidora. Eu me vejo mais como artista, cujo palco é o tempo e a platéia é a minha consciência.
Pode parecer falsa modéstia, admito sim o meu pioneirismo sob alguns aspectos, mas não percebo no que fiz ou faço grande relevância, eu nunca lutei a favor ou contra ideologias ou crenças, muito pelo contrário, eu não forço minha presença, prefiro muito mais ser aceita. Nunca tentei chamar a atenção para mim mesma, nem procurei ser a estrela nos meus nichos de convivência. Inclusive, lembro que esse foi um dos primeiros conselhos que recebi do Professor Colling: não tente ser mártir.
O que faço é simplesmente sonhar, acreditar tanto tanto tanto em mim, na humanidade e na possibilidade de ser
feliz, que não há situação ou pessoa que me convença do contrário. Eu me convenci que a habilidade na profissão de ser gente é amar, a meta é a felicidade e o que nutre é sonhar, por isso posso dizer, com toda a certeza que, nessa profição, eu já fiz carreira.

Amar para além do agora

Os que se amam querem-se para além do corpo: são cúmplices de alma. Ele descobre nela o mistério e a importância
de ser mulher, porque ela ou é, ou será mãe dos seus filhos. Ela descobre nele o mistério e a importância de ser homem,
porque ele será ou é o pai dos seus filhos. O que os move não é apenas o prazer do sexo: é o prazer da pertença, da
presença e da continuidade. Também há libido e desejo carnal, mas há um algo mais que transcende ao corpo, à libido e ao
desejo.
Para eles as palavras eu te amo, eu te quero, tem outra dimensão. Ela pode contar com ele para o que der e vier,
ele conta com ela, sempre, para o que der e vier. Nem um, nem outro acham palavras para descrever o que realmente sentem
um pelo outro, mas um sabe o que o outro sente.
Toda essa gama de sentimentos duradouros que incluem confiança, esperança, perdão, admiração, desejo, eles condensam
numa palavra: "amor". Assim se tratam. E quando são religiosos, atribuem a Deus a graça de um haver encontrado o outro.
Num mundo de bilhões de pessoas, de repente os dois se acharam e de tal maneira se encaixaram que há séculos pareciam
ter sido feitos um para o outro.
Era alguém como ele que ela buscava, alguém como ela que ele buscava. Um dia, em algum lugar, em determinada
circunstância, os dois olhares se cruzaram. Não se imaginam separados nunca mais, nem mesmo na eternidade.
É por isso que amar é diferente. Isto que se vê nas capas de revistas de bancas, nos vídeos pornográficos, nos
programas ousados de televisão, em novelas, nas praias e nas ruas é desejo oculto ou expresso de acasalamento
momentâneo. Amar é outra coisa. Casais que se amam sabem a diferença. Os que descobrem que não se amavam são pessoas que
jamais amaram, terão um pouco mais de dificuldade para entender esta relação. Por isso, é preciso ouvir os que amam. São
donos de si mesmos, mas sabem que já não se pertencem. Amam-se porque um descobriu parte do mistério do outro! O que
falta eles pretendem descobrir durante um longo casamento. O amor quando é amor, trabalha com o mistério do tempo.

Autor: Padre Zezinho
Fonte: www.padrezezinhoscj.com

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Olho d'água

João Bosco, numa entrevista pra rádio, descreveu o ato de compor como uma epifania que acontece depois de preparo
e dedicação. O amor sempre me pareceu à mesma coisa, a obra prima na profissão de ser gente. Como não dá pra amar na
solidão, muda a matemática só, ao invés de ser um, são dois.
Ele coloca a descoberta da composição como se a obra estivesse escondida e revelasse a si. Como olho d'água que já
existe e passa a brotar da terra que permite. Enquanto eu o ouvia, complementava cá comigo, como ser saciado pelo
frescor que brota da boca de quem leva amor no coração.
Conversar com quem ama, é como provar um pedacinho do céu, o engraçado é que se o coração que recebe está
despreparado, ele não é capaz de apreciar o buquê.
Saber desfrutar do amor é amar em troca, estar num ambiente onde existe amor em reciprocidade é como visitar uma
antecipação do paraíso.
O amor não sobrevive à expectativa, ele é gratuito, manifestação perfeita da liberdade, prática verdadeira da
teoria do livre arbítrio.
Amar é conhecer Deus, entender que a vida é a prova de amor Dele e que a gratidão pela existência é o jeito de
amar em troca.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Perdão

Ganhei um lindo presente de aniversário na última missa, foi abordado Mt 18:21-35 na homilia. O padre falou bem e
respeito sua liderança. Eu não estudei Teologia,mas, como sempre, eu tenho que ter minha interpretação. O que eu
entendi é simples demais e não rende um sermão: cada qual é escravo do próprio julgamento, condenado ou liberto por ele.

Nosso I ano

"Se eu sei o que é amor? (...) E, de repente, você tem a certeza de que, se puder ficar perto dessa pessoa, você é capaz
de ser a melhor versão de si mesmo." (Eu, meu irmão e nossa namorada)

Nem por isso, nem por aquilo
(Chico Sena)

Amo você por tudo que somos
Liga rara a do nosso amor
Nobreza de ouro e platina
Na mão carrego meu desejo e te entrego em belas noites
Numa roda de passa-anel
Nunca me enfada o teu fervor
Nem por meus desatinos tu me desprezas
Ao contrário, me ama sem pudor
Tento te tocar nos versos que penso e às vezes escrevo
Na paz e feliz
Eu te falei que ser feliz é ter paz
Você acreditou
Sem ranço
Sem medo do que é porvir
Estarei contigo enquanto matéria
Depois... desapareço num foguete com São Francisco no comando.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A mística do suave depois

Chamo de "mística do suave depois" a atitude de saber esperar, saber adiar e saber dar às coisas seu devido tempo
e hora. O sábio faz com pessoas e coisas o que faz o hortifrutigranjeiro com mangueiras, jabuticabeiras, couves e
laranjeiras: pauta-se pelo tempo delas e não pela sua pressa ou ansiedade de faturar e vender em cima de seus frutos.
Espera que seu fruto amadureça e então dá-lhes não o preço que acha que vale, mas o preço de mercado.
Na era digital e visual, quando tudo está ao nosso alcance com três toques de teclado, quando temos na mão um
telefone celular, um Ipod, um Ipad e, quando basta pressionar alguns botões que, num toque mágico de não mais de nove
números, nos vemos em contato com uma pessoa ou com milhares de seguidores, nesta era digital é fácil esquecer que
idéias, notícias, catequeses e pessoas precisam amadurecer antes de aparecer. Hoje, qualquer noticia imatura, qualquer
fato não digerido nem analisado, qualquer pregador despreparado pode aparecer. Basta ser urgente, apertar as devidas
teclas e dar os devidos toques… A qualidade do produto oferecido não conta. Alguns nem sequer preparam o que dirão.
Enfrentam câmeras e microfones sem nem mesmo perguntar sobre o tema do dia. Mas serão ouvidos e aparecerão. Então vão lá
contando com seu charme e sua graça pessoal.
O resultado é a ansiedade do aqui-agora-já. Urgentizam a vida, urgentizam Deus, urgentizam o milagre, urgentizam
as finanças. Apressam resultados.
Compre, adquira, financie agora e pague depois… Converta-se hoje a Jesus na nossa Igreja. Deus quer você agora,
hoje. Saia daqui como dizimista e contribuinte. Dê um passo à frente e entregue-se a Jesus agora! Deixe-se tocar pelo
Espírito agora! Deus o recompensará hoje. Venha lá que hoje às 15 horas haverá milagres. Eu garanto! Tome este chá, use
quatro desses comprimidos e o resultado será imediato, emagreça em três semanas, digite, fume, beba agora. Satisfaça-se,
gratifique-se. Você merece. Por que deixar para depois o que você pode agora? Por que segurar um casamento que vai mal,
se a outra pessoa faz você feliz? Divorcie-se e parta para outra… Quem sabe de você é você. Não tenha medo de ser feliz.
Siga seu coração. Pense primeiro em você…
O discurso esta na mídia em pregações e novelas e no marketing imediatista que precisa convencer e vencer logo…
Nesta esteira, as pessoas fumam quando sentem vontade, fazem sexo quando dá vontade, bebem quando vem a urgência,
digitam 24 horas por dia, prendem-se à Internet, ao Facebook, ao Twitter com a garantia de que, se quiserem, pararão na
mesma hora. Mas não param porque seu TIC e seu TOC já virou compulsão. O drogado ou alcoólatra também, diz que para
quando quer, mas não quer nem para. Ele também garante que não está viciado e se ofende quando alguém lhe sugere
tratamento. O certo é que a pessoa caiu na armadilha do "agora". Aquele momento precisa ser preenchido. No caso do agora
da comunicação há seguidores do lado de lá desesperados por fatos novos, ou há um emissor do lado de cá desesperado por
alimentar seu novo Pokémon que, se não for alimento morre? Não querem deixar seus seguidores sem mensagem ou conseguem
adiar sua necessidade de ser vistos e ouvidos?
Os livros de Bauman, Buber, Marcuse e Baudrillard não são de agradável leitura. Eles vão ao cerne da ação humana
quando analisam Eros e gratificação. Vale o que estou querendo neste momento. Se vai me prender ou criar em mim um
processo de dependência não importa. O que sei é que agora tenho um celular, um instrumento e uma chance e não vou adiar
nada. A frase de Paulo Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém, fica engavetada no livro. Não os atinge. Melhor
dizendo, não nos atinge porque todos temos nossas manias, nossos defeitos, nossos apegos e coisas ou atos que não
aceitamos abandonar ou adiar porque precisamos deles.
Não pense nos outros como vitimas do agora ou depois histérico. Pense em si mesmo. Poucas pessoas vivem um agora e
um depois sereno e sem ansiedade. Nossa era que é a do aqui-agora-já está cheia de imperativos e de ansiedade. Sem o
cigarro, a bebida, o sexo de cada dia ou momento, sem o clic e o toc toc toc de um teclado a pessoa se sente sem ter o
que fazer. Poderia ler um livro como fazia há anos atrás mas agora precisa entrar em contato com alguém que responderá…
Responderá é a palavra chave… Tudo é fruto da pressa em colher vitórias e resultados sem esperar que o fruto
amadureça. Acreditam mais na sua pressa do que no tempo do fruto. Acham que podem apressar o rio, o fruto e os
acontecimentos. Tolo é quem poderia e não faz. Tolo é quem podendo chegar a milhões não o faz. Alguns até conseguem o
sucesso desejado com seu imediatismo. Ficam famosos e ricos em dois anos, mas sua vida se torna artificial e cheia de
artifícios porque, de tanto fazer acontecer esquecem, eles mesmos, de acontecer como pessoa que amadurece aos poucos. A
notícia sobre eles acontece, sua
fome ou sede é saciada com aquele sabor; seu sucesso artificializado acontece, mas, depois, se vê que foi fruto
apressado. Dura menos do que o fruto natural que amadureceu no pé ou em lugar adequado.
Há uma mística do agora suave e do depois suave. E há uma urgência do agora histérico e do depois preguiçoso ou
histérico. Se você não a viu é porque não prestou atenção nos templos, na mídia e nas mensagens que entram em sua casa.
Estão cheios de agora, já , urgente, tem que ser neste exato momento. É a triste história dos toxicômanos repetida na
mídia e no púlpito. Aquele momento, aquela digitação, aquele cigarro, aquela sensação não pode ser adiada. Tem que ser
agora…
A vida na base do tem que ser agora, é fruto de altas expectativas de resultado e de sucesso imediato ou o mais
breve possível. Se ele não vem ou começa a diminuir parece que falta o ar à pessoa que o procura. Esperneia, digita
mais, aparece mais na mídia e faz de tudo para não perder a preeminência. Entra em parafuso. Não admira que tantos
cantores e artistas e até pregadores se afundem na droga ou na depressão. A comunicação fruto de altas expectativas faz
com o comunicador o que o gol que não sai faz com a torcida que foi lá ver o time vencer. Alguns saem rindo e a dizer
que dessa vez não deu. Outros
saem quebrando tudo, acusando o juiz . E foi apenas uma bola que não entrou.Mas vencer era tudo naquela hora! Ver um bom
jogo não fazia parte do plano. Na cabeça da pessoa a vitória era tudo. Era 8 ou 80, tudo ou nada. E dá no que dá. Se não
sai como quero eu quebro, acabo com quem me ousa questionar porque tenho poder e mostro que sei o que quero. Só não
consigo esconder minha frustração porque esperei demais de mim, do meu produto e do meu sucesso. Acabo
achando um culpado que nunca será eu,. Culparei o time, a gravadora, a editora, a ordem, a igreja ou a estação de rádio
ou de televisão e os organizadores do show porque veio tão pouca gente e meu trabalha vendeu tão pouco.
Vejo isso todos os dias. Ânsia de vencer, de vender, de acontecer e de atingir relevância. Se já passei por isso?
Já. Nos começos esperava muito de minhas canções e livros. Tive bons conselheiros. Parei de contabilizar e de verificar
quantos vendi, quantos leram e onde se cantava meus cantos. Soltei-os como se solta um pássaro canoro. Nunca mais me
preocupei com os chamados "retornos". A editora sabia se valia a pena reeditar ou tirar a obra de circulação. Se não
vendeu não foi por falta de exposição. Deve ser porque não agradou a muitos que não divulgaram a muitos. Com algumas
canções das quais eu gostava nada aconteceu. Com outras que eu jamais imaginava que o povo as quisesse aconteceu o
ouvido a ouvido e, para minha surpresa, o livro, a canção a mensagem foi adiante sozinha sem que eu a divulgasse.
Entendi que há uma dinâmica no marketing que escapa ao marketeiro e ao autor. Em algumas regiões o mais famoso cantor do
momento não reúne mais de mil pessoas e o menos conhecido junta vinte mil. O povo nem sempre responde à canção ou ao
marketing. Ninguém domina o capta todo o humor do ouvinte ou telespectador. Dá-se o mesmo na religião. Às vezes quem
teria mais a dizer não acontece e quem tem quase nada porque não lê e não estuda está na crista da onda. É um fenômeno a
ser resolvido pela autoridade da Igreja. É este tipo de pregador e de mensagem que eles querem dando catequese para a
multidão? Então, por que permitem que ele fale duas horas por dia e não levam o outro que tem conteúdo a ocupar o posto
naquele microfone? Não têm poder e jurisdição para isso? Podem ou não incentivar o proibir o pregador imediatista que é
bom de marketing e parco de conteúdo? Vale a pena segurar aquela gente com este tipo de doutrina e com este tipo de
pregador que aparece, mas não repercute a doutrina de sua igreja? Que seleciona a mensagem que lhe interessa? Que só dá
o chantili e o caldinho e nega o conteúdo sólido do bolo e da sopa da igreja? A mística do suave depois ajudaria a
catequese muito mais do que imaginamos. Os apressados teriam que esperar, os lentos demais teriam que se apressar e os
de pouco conteúdo teriam que buscá-lo porque ler eles sabem… Os pouco críticos e sem critério teriam que aprender a
crítica sadia e os críticos demais deveriam aprender a moderar seus comentários. Mas se autoridades da Igreja pedissem
eles deveriam falar. São assuntos a serem debatidos, porque muitos que o fazem sabem explicar porque o fazem. Devem ser
ouvidos. Quem discorda, também. Que se fale do tema, porque entramos na era da competição. Há espaço para todos, mas
alguns se movem tão depressa que atropelam dioceses inteiras. Há que se falar. Como está não faz sentido. Virou
comunicação predatória e ansiosa!

Autor: Padre Zezinho SCJ
Fonte: www.padrezezinhoscj.com

Uma segunda chance, uma segunda opinião

"O apego não quer ir embora. Diacho, Ele tem que querer!" (Maria Gadu)

Algumas pessoas são antipáticas, outras são anti-sociais, algumas são tímidas ou pouco comunicativas. Quietinhas, quem sabe? Eu não sei em qual perfil meu avô se enquadra, mas, seja lá qual for, sempre me pareceu que ele não ligava muito para os outros. Ele não foi no aniversário de 15 anos da minha irmã, muito menos no meu casamento, toda vez que nós o chamávamos para ir em casa ele respondia que ia ver se não tinha uma pescaria marcada.
Ontem, domingo, recebemos o convite para irmos hoje, segunda-feira, no aniversário dele, como sempre que conversamos a respeito dele sempre tem um "pois é, ele não foi, né", a primeira coisa que pensei foi "por que eu iria? Ele não liga".
Hoje, enquanto ouvia Maria Gadu, na música que ela canta sobre sua avó Cila, eu resolvi pensar de novo. E pensar o contrário.
Poxa vida, o velhinho nunca vai a evento algum, raríssimamente convida o povo pra ir a casa dele. Esse aniversário é o de 74 anos! Vai que é o último? Ele me fez falta antes, essa é uma oportunidade pra matar um tantinho assim da saudade que ficou. Será que vale a pena esperar o dodói da falta dele passar? Vai que ele morre? Vou esperar ele morrer pra querer matar a saudade?
Eu vou à noite na casa dele, dar-lhe o presente improvisado e um beijo de feliz aniversário, vou amassar gostoso aquele velhinho barrigudinho e falar como é bom ter alguém a quem chamar de avô.
Eu não sei qual vai ser a reação dele, provavelmente vai me dar um tapinha nas costas e dizer, como sempre, "tá bão, fia" mas eu sei que não importa o que ele tenha guardado pra mim, eu vou receber com o amor de neta que eu guardo cá dentro no coração.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

15 minutos

Às vezes parece que as dificuldades me moldam. Mas às vezes, só às vezes, parece que sou eu quem molda as
dificuldades.

Aprendi muitas coisas com a cegueira, como, por exemplo, contar até 10 antes de falar; valorizar as qualidades e
compreender as imcompatibilidades; respeitar a história de cada um; entender que há diferença entre esperança, fé e
amor... Há ainda muitas outras, mas eu preciso de mais palavras para expressá-las.

Fui apresentada à receita dos bons 15 minutos não faz lá muito tempo. É bem simples, ficar a sós, em paz, e deixar
corpo, mente e coração descansar. Ela não foi apresentada dessa forma a mim, mas foi assim que eu interpretei.
Para ficar a sós e em paz tento cumprir com as obrigações que estão pendentes, cumprir com as responsabilidades
que assumi, assim diminuo a possibilidade de ser interrompida por outras pessoas e deixo a minha consciência tranqüila.
É claro que nem sempre é possível colocar meu mundo em ordem, quando não dá, coloco os tais que estão pendentes numa
sacola, fecho-a, e deixo-a do lado de fora do quarto.
Então, um a um, vou largando os pesos, aliviando meus ombros dos compromissos, da culpa, da frustração, da mágoa,
do medo.
Vou despregando as placas de condições para ser feliz. Eu retiro do meu quadro de vida a lista de objetivos, as
estatísticas, os gráficos de possibilidades, as equações de previsões, os estudos de caso dos outros, os meus estudos de
caso, as comprovações, todo e qualquer sentido.
Vou até meu velho e surrado baú de sonhos, dentre os brinquedos estragados, as invenções incompletas, lá no fundo,
pego minha caixa de impossíveis.
Abro minha caixinha, lá dentro tem um monte de recortes de Jéssica. Uma Géssica sorrindo de olhos bem abertos
olhando sorridente para a câmera. Outra com um lápis na mão, concentrada, fazendo o desenho de uma paisagem. Outra numa
foto 3x4 colada numa CNH. Uma também sorridente, jogando bola, brincando com os amigos na chuva. Uma Géssica jogadora de
basquete, foto tirada enquanto a bola ainda estava no ar indo a direção a cesta...
Pego meus cacos de sonho e colo cada um no meu quadro, nesse mundo que invento eu não sinto dor, o Sol não me faz
mal, os dias chuvosos não me deixam insegura, eu não uso remédios, não preciso explicar pra ninguém a diferença entre
problemas nos olhos, nos ouvidos e no cérebro, faço toda e qualquer coisa sozinha sem limitação física e... Eu posso
ver.

Ah vai, só 15 minutos!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Bom dia

Pra mim o amanhecer é o suficiente pra crer.
O engraçado é que os meus olhos são um bocado sensíveis e se eu me exponho ao Sol sinto um pouco de dor.
Mas eu sou mais que esse corpo... Tão mais.
O amanhecer, o Sol apontando no horizonte oficializam pra mim uma nova chance, um novo começo, uma nova vida.
Curitiba deu uma trégua hoje, só pra variar, e deixou o calor nos visitar.

20%

"... retirando do horizonte profano da vida a matéria prima que será sacralizada..." (Padre Fábio).

Próximo ao Departamento de Eletrotécnica tem alguns bancos que viraram conhecidos meus de tanto freqüenta-los.
Certa vez, enquanto esperava minha vez de falar com algum professor, o André Carioca veio se sentar ao meu lado...
Papo vem, papo vai, ele me solta essa:
- Quando eu estava na carreira militar, lembro que se algum dos caras dizia que não agüentava mais durante os
exercícios, o Sargento respondia "quando você acha que não dá, que chegou no seu limite, é que você consegue mais 20%".
Aí, foi embora. Simples assim. Deixou essa bomba na minha mão e saiu correndo.
Essa é uma daquelas coisas que me chamam a atenção, mas que eu também não entendo. Como de costume, separei um
lugar na memória e guardei numa gavetinha, lidaria com ela quando tivesse tempo e alguma noção do que fazer.

Trabalhar oito horas por dia e encarar a Engenharia foi uma péssima idéia, havia noites que eu dormia três horas
porque tinha que fazer os trabalhos, outras ainda, que eu não conseguia dormir de ansiedade. Sair da cama era um
sacrifício e eu estava sempre cansada e impaciente.
Fiz amizades bastante interessantes nesse período, o Padre Fábio tem uma frase que eu adoro, ele diz
"interessantes as amizades que a gente faz a partir da precariedade". Conheci a melhor delas no espaço de três quadras
da casa da minha mãe até o ponto de ônibus, uma senhora que nunca me disse qual era o seu nome e tão pouco perguntou o
meu.
Eu aconheci numa manhã bem comum a minha vida, quando saí de casa meio acordada, meio dormindo, atrasada, aos
trancos e barrancos, afundando e emergindo dos vales que eram os buracos daquela rua. A senhora já estava no ponto, mas
me viu e resolveu voltar e me ajudar.
Na ânsia de me ajudar, ela agarrou no meu braço e começou a me arrastar, desembestou a falar [coisas que eu não
lembro], como ela era mais baixa que eu, eu andava inclinada e, ao invés de entrar e sair dos buracos passei a tropeçar
em todos eles.
Quando chegamos no ponto de ônibus, eu não sei qual era a minha cara, mas ela me largou e riu timidamente e disse
"bom dia"...
Eu estava emputescida.
Mas alguma coisa que eu não sei nomear naquela mulher, no seu jeito simples, conseguiu cativar alguma coisa dentro
de mim. E, por debaixo dos meus nervos se aflorando, alguma coisa insistia em emergir e eu decidi não segurar.
Abri um sorriso enorme e disse o meu "bom dia" em troca do dela, agradeci pela ajuda enquantoarrumava a roupa que
ela havia tirado do lugar e puxei conversa, fui sincera ao dizer que se não fosse ela eu com certeza perderia o ônibus,
então passamos a falar mal daqueles que achávamos que eram responsáveis pelos buracos e pelo asfalto mal acabado.
Quando entrei no ônibus aquele dia e me sentei, lembro de ter pensado "põe vintinho na conta, Carioca Maluco...
põe vintinho na conta".

Palavra de mãe é foda

"... não é o quão forte você bate, é quanto você apanha e consegue ficar de pé..." (Rock 4).

E aconteceu que eu tive um dia ruim.
Foi antes do casamento, na época da faculdade. Pisei numa poça e tive de ouvir uns desaforos no caminho do
trabalho, soube de más notícias na empresa que trabalhava e na universidade. À noite, quando cheguei em casa, eu estava
destruída.
Como naqueles tempos o cansaço e a rabugentisse vinham sendo comum ao meu comportamento com a minha família,
resolvi ao menos aquele dia, poupá-los da minha má companhia e ir direto para o quarto.
Duas características que são inerentes da minha querida mãe foram fundamentais para o meu crescimento pessoal
naquela época: ser insuportavelmente otimista e a única a não ter medo de mim quando eu estava mal humorada.
Eu estava sentada na cama, ela se sentou ao meu lado e tentou arrancar de mim o que havia me deixado naquele
estado, eu pensava lá com meus botões "a vida", mas não tinha coragem de dizer, como eu não me abria, ela limitou-se a
aconselhar:
- Eu não tenho idéia do que aconteceu com você, mas pra eu te deixar em paz, me promete uma coisa, promete pra mim
que quando você colocar a cabeça no travesseiro você vai agradecer. Mas tem que agradecer de coração! Não adianta falar
da boca pra fora. Porque eu tenho certeza filha, por mais difícil que tenha sido o seu dia, você não estaria aqui do meu
lado se coisas boas não tivessem acontecido também. E eu sinto, do fundo do meu coração, que você é uma pessoa
abençoada. Promete pra mim? Promete que aí eu vou embora.
Eu precisava ficar em paz, só por isso eu prometi, uma promessa que eu não intencionava cumprir.
Quando, enfim, ela desistiu, fui me arrumar pra dormir. O sono simplesmente não vinha... Palavra de mãe é Foda.
Ora, eu não tinha nada a perder mesmo, então comecei a pensar em coisas que eu realmente gostava, pelas quais eu
era grata e, cada vez que eu fazia uma descoberta vasculhando minhas lembranças, também agradecia.
Eu não sei quanto tempo demorou, mas eu dormi tão bem.
No outro dia não aconteceu absolutamente nada de diferente. Nada! Não pisei naquela determinada poça, mas pisei em
outra; não ouvi aquele determinado desaforo, mas ouvi outros; mais más notícias; mais gente grossa; mais chapuletadas da
vida.
O diferente é que no final, quando a noite chegou, era eu. Eu não estava destruída, nem irritada, muito pelo
contrário, de repente as dificuldades passaram a ser engraçadas.
E os dias se prosseguiram do jeito que tinham de ser, mais uma vez, mais um dia, mais batalhas, mais vitórias. E
de novo e de novo a vida em mim conseguiu vencer a realidade que a existência me impunha.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Texto encomendado

O NAPNE da UTFPR está desenvolvendo projeto "Pensando a Inclusão", fui convidada a escrever um dos textos, que
segue.

A inclusão, por seus próprios sujeitos

Os meus olhos vinham adoecendo a algum tempo antes de ingressar no curso de Engenharia Elétrotécnica no CEFET -
hoje, UTFPR -, passei no vestibular com 30% da visão e sem a mínima idéia de que era deficiente visual, na minha leiga
concepção eu só estava doente. No segundo ano, após o primeiro transplante de córnea, perdi o pouco de visão que tinha.
Fiz a reabilitação no Instituto de Cegos do Paraná, lá aprendi a usar bengala, ler e escrever em braile e tive as
primeiras noções de informática.
Daí em diante as coisas aconteceram todas juntas. Por exemplo, a primeira vez que saí andar de bengala sozinha,
foi para levar os documentos para o reingresso na faculdade e, depois, as aulas mais avançadas de informática foram
propiciadas graças ao contato de um dos coordenadores do Departamento de Eletrotécnica, na época, Professor Ivan
Colling, com o centro pedagógico do estado.
É engraçado recordar o período de reingresso, eu e os professores não sabíamos ao certo o que estávamos fazendo.
Porém, de novo o Professor Colling descobriu que o Professor Rubens Ferronato (UNIPAN, Cascavel) havia obtido sucesso ao ensinar
cálculo diferencial integral a alunos cegos. Atendendo ao nosso convite, ele veio até Curitiba e tivemos uma reunião com
meus três primeiros professores. Além da orientação, ele também nos apresentou ao Geoplano, invenção dele, com o qual eu
fui capaz de compreender gráficos e diagramas.
Também utilizei outras ferramentas Para acompanhar as aulas: um gravador digital, computador com sintetizador de
voz, digitalização de livros e inúmeras reuniões com cada professor para sanar as dúvidas.
Além das disciplinas que cursei, aprendi também a valorizar profundamente o poder das palavras, compreendi que
quando a iniciativa tem a possibilidade de começar a partir de um diálogo sereno, firme e inteligente, a expectativa das
coisas terminarem bem são muito maiores. Contudo, quando o diálogo não foi possível, quando ouvi "tudo bem, mas não vou
levar ninguém na faculdade" e fui chamada de "fraude", percebi que devia desenvolver a capacidade de agradecer a opinião
dos meus interlocutores e seguir em frente.
Se de um lado recebi apoio dos meus primeiros professores e dos coordenadores da Engenharia e do Departamento de
Eletrotécnica, também fui desestimulada por familiares, amigos e deficientes visuais muito mais experientes que eu.
Eu me divirto toda vez que recordo da minha conclusão: como não houvesse precedente de um cego cursando
Engenharia, eu, aqueles que me apoiavam e aqueles que me desestimulavam éramos todos iguais em nossa ignorância; logo,
eu estudaria aquilo que gostava e escolhera; e, enquanto eu tivesse o apoio de outros Engenheiros, eu ainda tinha uma
réstia de esperança e isso me bastava.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Terapia diária

"Com quem você quer falar por horas e horas e horas?" (Renato Russo).

O valor de uma palavra amiga é coisa que não devia ser subestimado. Em muitas vezes que precisei, sem aviso nenhum, tive conversas que me proporcionaram uma força que não sabia que tinha.
Em contra partida, em momentos de fragilidade, também ouvi barbáries de pessoas próximas o suficiente para me machucar profunda e permanentemente.
Em cima do muro, sempre tem aquele que simplesmente não sabe o que dizer. Naturalmente, afinal, o caminho que escoli não compõe uma paisagem comumente desejada.
Infelizmente isso me deixou um tantinho confusa, vez em quando eu entrava num ciclo vicioso de tristeza, tateando alguma esperança na minha lista de telefones, mas pra quem ligar? Cada ser humano está ocupado com o próprio crescimento, com a evolução pessoal. E não dá pra exigir que outro ser humano, tão humano quanto eu, seja capaz de me decifrar e me dizer o que preciso ouvir quando preciso ouvir.
Aí, eu decidi a escrever assim de sopetão, uma terapia alternativa pra emergir de vez da tristeza. Filosofia de "faça você mesmo". Acho que está a caminho de dar certo... Às vezes ainda tenho que recorrer a outras leituras, mas escrever tem me feito bem.

De todos os motivos que guardo cá comigo pra gostar de Jesus Cristo, o meu encanto maior é com a gentileza. Não aquelas gentilezas vindas da boa educação, não daquela educação que mamãe ensina, não das palavrinhas mágicas. É a mágica da aproximação, da capacidade de chamar pra perto, de aconchegar, de abraçar com tudo o que tinha no pacote, com os defeitos, com as feridas, imoralidades e o que fosse.
Eu fico pasma toda vez que leio os Evangelhos, pasma e satisfeita, mesmo que existam tantos pregadores, tantos livros e documentos dentro da Igreja... Quando o meu coração aperta e não há jeito de respirar, é lá junto de JC que eu me aconchego.

domingo, 21 de agosto de 2011

E a luz se apagou

Sabe que não cei a data, não sou médica e não sei qual é a norma da
ANVISA para conceder um cidadão legalmente cego. Só me lembro de
quando a médica disse "eu já falei pra você pegar a bengala", lembro
de ter pensado "não disse não"... e que doeu.
Minha mãe estava comigo, o consultório da médica fica em São Paulo,
capital, nós moramos em Curitiba, longe, e há um bom caminho de volta.
Lembro de absolutamente nada. Nada de paisagem. Nada do que agradecer.
Nada do que reclamar. Nenhuma palavra. Nenhum pensamento. Nada.
Combina com a escuridão.
Observação canalha, eu nunca fiquei na escuridão, vejo a luz e
contrastes de cores - a lesão no nervo ótico ao invés de fechar um
manto negro de fora pra dentro como era de se imaginar, abre como um
lençol branco de dentro pra fora. Tentei ser um tantinho poética.
Também não lembro de quase nada daquele período. O pouco que guardo é
cheio de muitos consultórios médicos, muitos remédios, cirurgias e
dor.
Lembro também de todos os dias tentar mirar o meu guarda-roupa,
ficava bem em frente a minha cama e notar o avanço do glaucoma.
Fui declarada oficialmente cega por minha médica bem quando terminou
meu período de experiência do emprego novo. Como ainda via um tantinho
e percebia o avanço da doença, procurei guardar comigo cada detalhe
das feições das pessoas que me acompanhavam. Lembro de cada poda que
sofri, comecei fazendo cartas e aproximando bastante o monitor e a
folha de papel para poder enxergar, depois da lente de aumento do
Windows e, final mente, do sintetizador de voz do computador. Algo eu
também tenho ainda fresco na minha memória, quando meu chefe disse "eu
não sei o que fazer com você, te aposentar eu não posso, só você
pode".
Quando completou um ano do trancamento da faculdade de Engenharia
Elétrica, decidi voltar, Ah, disso eu lembro de tudinho, tudinho! Cada
reunião, cada professor, cada matéria. tudo.
Eu ainda não entendi completamente o porquê da Engenharia ter tanta
importância na minha vida, mas tem. Vou tentar explicar tanto quanto
meu auto conhecimento já conseguiu alcançar.
Eu não consegui vencer a cegueira, ela tomou conta de mim, cada vez
que penso sobre o progresso dela, toda vez, o que me vem é uma criança
jogada numa correnteza negra e fria. Ninguém me ensinou a nadar,
ninguém me disse como lutar. Aquela coisa foi me puxando e meus
pequenos braços e pernas não foram suficientemente fortes para
conseguir me manter... Bem... Viva.
Eu tive que nascer de novo.
Então, eu me encontrei uma mulher de 20 anos, cega, numa família com
quem eu não conseguia me comunicar, num emprego onde não me queriam,
órfã de amigos, com um sonho pela metade nas mãos.
Eu me agarrei com unhas e dentes na única coisa que me pareceu sólida
no momento, foi tudo o que eu pude enxergar, foi tudo ao que eu me
apeguei, passou a ser tudo com o que eu me importava.

Questão de referencial

"Uma partícula é como a poesia, ambas carregam muito ainda que pequenas" (Professor Colling)

Montanhas, Física e Poesia

Sentada numa mesa de bar pergunto:
- O que é que tem do outro lado da rua?
- Carros estacionados e gente andando na calçada.
- O que mais?
- Bem, tem os prédios também.
- De quantos andares eles são?
- Não sei, daqui não dá pra ver.
- Saindo, dá?
- Ah... sim...
Achei graça.
Dá pra ter noção do tamanho de uma placa vendo de perto, de um carro, até de um prédio... de uma montanha não dá, os olhos não alcançam, isso às vezes se
torna possível se a gente se afastar o suficiente pra fazer a montanha caber no campo de visão.
Com as pessoas parece à mesma coisa, a gente só tem noção de quanto elas são grandes de longe, depois que a gente se afasta.

O Professor Colling foi meu professor predileto na Engenharia por vários motivos, mas o principal deles é que ele parecia tão apaixonado pela Física quanto eu.
A paixão sempre me pareceu igual, infelizmente, a relação não, a relação dele com a Física está para casamento, tanto quanto a minha está para amor platônico.
E nós dois fizemos a mesma Engenharia Elétrica.
Ah, a Engenharia! Ah, a Eletricidade!
A manipulação da Eletricidade é uma descoberta formidável: uma queda d'água tem uma Energia Potencial dada sua altura, massa de água e força da gravidade, a massa e a gravidade são as mesmas, porém, quanto maior a altura, maior também a velocidade, a velocidade da queda de água movimenta uma turbina ligada a um gerador... é aí que a mágica acontece! E essa é só a Energia Hidráulica!
Do gerador até a minha casa a Força Eletromotriz caminha por cabos, é manipulada por transformadores, são toneladas de metal, material eletromagnético e isolante. Sem contar na quantidade de pessoas envolvidas.
A mesma Energia Potencial devido à altura de elevação da água do reservatório é aquela que movimenta as hélices do meu ventilador, que esquenta as resistências do meu aquecedor e do meu chuveiro, carrega a bateria do meu celular, sustenta o acionamento e funcionamento dos meus aparelhos eletrônicos...
Nossa... é... de... mais.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Continente


Rosas, produto notável, nariz operado

Descobri um negócio chamado "horóscopo das flores" quando procurava a ligação entre flores e olhos, estava procurando porque, seja em minhas orações, seja durante a acupuntura ou em um insite ou outro no meio do dia, a figura de uma flor me vem quando penso em meus olhos. Nesse horóscopo é dito que, a partir da minha data de nascimento, da cor dos meus olhos e cabelos, eu me enquadro no perfil de rosa romântica...
Acho que seja lá quem for o tal que o escreveu não gosta muito de rosas românticas...
Para esse perfil o autor se limitou a escrever "você está sempre procurando alguém para colocar a culpa".
Essa porcaria não é o que se possa chamar de oração da sabedoria, mas, fazer o que, como sempre, eu tenho que pensar.

Ajudei o meu irmãozinho com matemática no último final de semana, ele tinha encalhado em três exercícios que nem ele nem o povo de casa conseguiam resolver, como eu estava de visita, ele aproveitou para sanar as dúvidas.
Foi bem legal.
Gosto de números, são simples, a solução é sempre óbvia. Óbvia no sentido de que se existe, existe; se não existe, não existe. Simples assim.
Entre eu e meu irmão a comunicação precisou da ajuda de papel e lápis. Ele me ditava os exercícios e eu os escrevia num papel pra ter certeza de que o que ele dizia era o que eu entendia. E vice e versa.
Entre eu e a matemática rolou a mesma mágica de sempre. Repassava as expressões mentalmente algumas vezes, eram todas de produto notável, desvencilhava os números de cada uma aos poucos, então não era mais uma expressão, eram peças de uma expressão, rearranjei tudo na minha cabeça, fiz as simplificações e pronto, resolvido.
Penso que tento fazer o mesmo com tudo na vida: absorvo as informações, não importa de onde venham, e, se elas produzem uma interrogação, eu as mastigo, mastigo, retiro o que me faz mal, levo comigo o que me faz bem e, quando não
compreendo, guardo numa gaveta para lidar com elas depois.

O maridão operou o nariz, minha sogra foi conosco para o hospital e passou o resto do dia em nossa casa.
No final da tarde eu comecei a azedar de um jeito...
Estava me sentindo cansada, mal humorada, irritada.
Minha sogra me chamou para tomar café, eu estava no sofá pajeando o marido e fui pra mesa, quando sentei, não me agüentei e disse "nossa, por que é que eu tô tão irritada?!", na mesma hora ela respondeu "é por causa do hospital, a gente fica assim mesmo".
Engraçado que nesse momento eu vi minha mãe, lembrei das viagens e cirurgias, da corrida procurando oftalmologistas em tudo quanto é lugar, em outras cidades, em outros estados... Ocorreu-me que eu nunca a agradeci direito, pior, eu a usei por um bom tempo como bode espiatório da minha mágoa por ter perdido a visão.

Ainda não sei direito porque esses eventos me chamaram tanto a atenção, nem porque quando penso em um, os outros me vem, mas sinto estar descobrindo um continente inteiro de percepções em mim, queria que a vida fosse tão fácil como a matemática, assim eu alcançaria com uma simples reorganização de raciocínio o que é que dá pra cancelar e chegar de uma vez no resultado final, seja lá qual fosse.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A cor do blog

Engraçado... estranhamente tem um monte de coisas sobre as quais eu gostaria de escrever, quando que a tão pouco
pouco tempo estava tão difícil, aí, fiz uma triagem nos posts publicados e fiquei impressionada com que encontrei: juro
que via parede do quarto da minha irmã - listradinha em tons de roxo e rosa.
Eu não lembro qual foi a aparência que escolhemos pro blog, levando em conta a deficiência visual também não dá
pra comprovar... mas se eu fosse combinar minhas impressões dos posts, mais um bocadinho da minha personalidade, mais
outro bocadinho das idéias que me ocorrem, mais um outro ainda das influências externas, usaria algo com flor de
serejeira... sabe, aquelas rosinhas.
Rosa chá! Violeta! Lilás..?
Será
Misto de experiência e descoberta.
É mais ou menos assim a Eu de agora, uma coisinha confusa com um quê de meiguisse... um quê de revolta.
Ou não...
Ah, e, a propósito, estava cogitando "ou não..." como nome alternativo para o blog.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Canta pra mim

"Lálálá" (Maridão)

Eu fiz esse caminho a vida toda, todos os dias as mesmas ruas, toda vez o mesmo parque. Sei de cada lombada, cada
curva, conheço todas as calçadas. O comércio nunca mudou, o mesmo jornaleiro, a mesma fornada de pão, as mesmas
crianças, todas, todas iguais.
Bem aqui, de tostão em tostão, eu gastei toda minha vida.
Então você me aparece numa esquina qualquer, o seu som só ecoa, lá longe e, com que insistência irritante, a
música me invade os ouvidos em versos desconexos e de tom em tom ganham forma.
De repente nenhuma forma é mais desbotada.
De repente, de um bléim pra outro mesmo, a cor meio que salta aos olhos, tudo se aproxima, a rotina ganha cheiro,
o dia ganha brilho.
Canta pra mim, canta, porque te ouvir cantar é rever minha história.
Canta pra mim, canta, porque te ouvir é sentir um tesão que eu não lembrava que tinha.
Canta, canta pra eu sorrir com as lembranças velhas.
Canta pra eu cair na nostalgia, pra eu recordar do que se foi com vida, pra eu rever minha juventude em cores
vivas.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Parla!

"Ele não quer mais ser o Flash!" (A creche do papai)

Tenho juntado uns retalhos cá comigo que acho que já dá pra costurar.

O primeiro e maior retalho eu colhi no filme "A creche do papai", estrelado por Edie Murphy, lá tinha um piá que
não tirava a fantasia do Flash de jeito maneira, ele estava convencido de que era o próprio e passou assim a maior parte
do filme, quase no final o "Flash" some da creche e todo mundo começa a procurá-lo feito doidos, super preocupados,
então encontram um moleque só de cueca na cozinha comendo cereal, perguntam o nome dele e ele diz que é Fulano [não
lembro o nome mesmo], um dos caras se recordou que Fulano era o nome do Flash, quando perguntam pra ele se ele é o
Fulano-Que-É-O-Flash, ele responde que não quer mais ser o Flash.
Eu me encantei com essa idéia de um jeito.
Eu ainda não aprendi a explicar direito, mas eu acho que é bem assim que o Amor acontece.

O contrário, eu li em "O fantasma da ópera", o contrário porque o protagonista também usava máscara, o nome do
fantasma era Erik, ele foi deixado de lado desde que nasceu porque era feio, ele também era um gênio, um músico, um
engenheiro, arquiteto, compositor. Acabou que fez um monte de barbáries, matou gente e acabou ganhando a redenção com a
compaixão de Cristine. A frase que mais me chamou atenção no livro foi "Mau, Cristine? Mau? Para eu ser bom, eu só
precisava ser amado".
Eu não sei como funciona o processo do medo, mas eu sei que a gente se esconde quando é esse o sentimento.
Eu não sei como funciona o processo da maldade, mas eu sei que a gente a carrega dentro do peito e que ela só
cresce se for alimentada e que, como tudo o que é forte, precisa ser nutrida pra ser libertada.
Eu sei também que quem sente medo e raiva cansa. E todo que cansa precisa de colo, precisa de berço, precisa de
abraço.

Amor, acho que é escolha que tem que ser ensinada, é uma opção, uma coisa que agente constrói quando está em dois
ou mais, uma obra de arte pintada com jestos de compreensão e acolhida.
Não gosto nenhum pouco da idéia de química mistrurada ao Amor, química acontece sem pedir licença, Amor é manso, é
educado, pede licença e precisa da nossa permissão.
Não gosto da idéia de natureza misturada ao Amor, natureza pode ser atrapalhada por nossa interferência mas não
precisa dela, Amor precisa ser ensinado.
Uma vez eu estava na casa de uma das minhas madrinhas de casamento, fui conhecer a filhinha dela que tinha acabado
de nascer, eu não sei direito o porquê, mas a bebê sofre com cólicas toda vez depois de mamar, quando a menina começava
a se contorcer e chorar, minha amiga falava "eu sei, eu sei, a mamãe sabe, tudo bem, tudo bem", Acho que a imagem de uma
mãe acolhendo com carinho e paciência o filho que chora no colo é a obra máxima do amor.

Fui presenteada com outro retalho escutando rádio, o João Bosco falou a respeito do processo de compor... às vezes
quando me lembro, parece mais que ele falou a respeito de baixar o santo, mas tudo bem, essa impressão não vem ao caso.
Ele disse que a primeira coisa que o músico tem que fazer é trabalhar a técnica, estar com a habilidade no violão bem
treinada, estar com a voz bem com as oitavas [seja lá o que isso quer dizer], então, no momento que ele menos espera,
essa coisa bonita vai se deixar brotar através dele feito olho d'água, vai querer aparecer, não vai mais querer se
esconder, e a obra acontece.
Penso que a habilidade em lidar com as pessoas não seja assim tão diferente do artista. Muda a matemática só, ao
invés de ser um, são dois.
A gente conhece aquele alguém e alguma coisa dentro da gente se sente convidada e a vontade por alguma coisa no
outro, de repente, essa coisa que estava guardada se mostra e não quer mais se esconder.
Numa outra parte da entrevista, ele disse que depois de chegar ao final da composição de uma música, "a gente se
sente brilhante", eu achei graça, porque quando eu me lembro das pessoas que eu mais gosto, é como "brilhante" que eu as
recordo.

um escritor que infelizmente [infelizmente mesmo] eu não lembro o nome disse em um de seus livros "se eu te
mostrar minha nudez, porfavor, não me faça sentir vergonha"... e quando a gente se mostra, nem sempre é bonito de se
ver... e às vezes o que parece feio, é sugeira só que limpa fácil com algumas lágrimas... e como tem beleza enterrada no
lixo nesse mundo... e como a gente tem que estar com o coração afiado pra que, quando a beleza apontar no meio do lôdo e
se sentir pronta pra se mostrar, a gente esteja pronto pra receber.