sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O mistério da fé

"Os maiores milagres de Aparecida são espirituais. Nós, padres, o sabemos. Tenho visto poucas pessoas jogarem muletas no chão e saírem triunfantes. É mais templo de oração do que de prodígios. Também não vejo os padres e pregadores a incentivar isto. Mas os confessionários estão sempre cheios. Outra vez, vale a expressão de Romano Gardini, repetida pelo papa Bento XVI: 'essencializar a vida'. O que seria o essencial em Aparecida? Penso que aqueles olhares e aquelas conversas de povo simples, dirigidos a Jesus e à sua mãe. O espetáculo de Aparecida e que ali nada é espetacular. Os fiéis não vão lá para ver milagres. Vão lá para orar". (Padre Zezinho)

Uns poucos anos atrás, viajei com meu [naquela época] namorado e a família dele para Aparecida do Norte. Viajamos com aexcurção da igreja dele, partimos sexta-feira à noite e retornamos domingo à noite. Quando partimos de Curitiba, o clima estava ameno, o verão já havia chegado e o frio havia dado uma trégua, porém uma brisa agradável se mantinha. Talvez por causa da temperatura, senti a diferença de Curitiba e Aparecida do Norte na pele, lá a cidade estava quente, insuportavelmente quente, vez em quando eu precisava sentar e respirar e repetir para mim
mesma "não desmaie não desmaie não desmaie".
Começamos o passeio sábado pela manhã, conhecemos as ferinhas de rua, a cidade e a igreja do Frei Galvão e passeamos pelo mini shopping ao lado da basílica. Abri mão de conhecer alguns lugares, os lugares mais íngremes pra ser mais específica.
A missa na igreja do Frei Galvão foi muito bonita e sóbria, ao contrário do que eu esperava, não havia escândalos e nem exageros da parte do sacerdote, nem da parte dos romeiros. Infelizmente, eu e meu namorado discutimos quando retornamos de lá e o efeito esclarecedor da missa e do que me apercebi quanto à cidade passou.
A discussão, o calor, a multidão, o comércio religioso, o comércio não religioso... Tudo contribuía para afiar as minhas críticas e polir meus argumentos desaforados guardados ao que eu chamava "manipulação de massa". Como por respeito à religião da família do meu recente namorado, preferi ficar calada e não proferir todo meu desprezo.
Os lugares seguintes que visitamos foram o mostruário da imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Sala dos Milagres e a Sala das Velas. Quando começamos descer uma rampa, o meu coração palpitou forte como quando se leva um susto, como ninguém me chamara, continuei a andar. Aconteceu de novo, eu respirei fundo e pensei comigo que não podia ser o calor porque lá estava fresco, nem fome porque já havíamos comido, muito menos cede porque eu estava sempre com uma garrafa d'água, concluí que se acontecesse novamente eu falaria com meu namorado para pararmos e descansarmos um pouco, mesmo a contragosto, porque eu ainda estava brava com ele. Então aconteceu uma terceira vez, mas não deu tempo de falar nada porque eu já estava chorando, tentava formular as frases, mas o meu coração se apertava em protesto, à voz engasgava e eu chorava mais. Finalmente quando consegui respirar fundo, perguntei a ele "você pode, por favor, me explicar porque é que eu estou chorando?", ao que ele respondeu "todo mundo está chorando", "Por quê?", "porque a gente ta bem na frente da Santinha", "mas eu não consigo definir o que é que eu estou sentindo", "é assim mesmo, o Espírito Santo faz isso com a gente".
Eu já era cega naquela época. Eu não sabia onde eu estava, eu não sabia que a imagem da Santa estava lá, eu não sabia que as pessoas estavam chorando, eu não compartilhava daquela crença, eu nem ao menos estava prestando atenção, visto que estava mergulhada nos meus próprios etassuntos.
Eu me orgulhava de mostrar a todos que era forte, independente, lógica, ponderada. Eu procurava por respostas, quando eu estava só eu implorava a ajuda de alguém, mas eu não procurava lá, eu não acreditava e não merecia. Mesmo assim, naquele dia, eu fui apresentada a um Amor que eu não conhecia, eu ainda não entendo, ainda não tenho respostas, não tenho vocabulário pra traduzir o que é que aconteceu comigo, o que eu sei é que uma porta se abriu e vai se manter assim, pra sempre.

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