sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Quando Não se tem mais saco

"Samba, coração... samba que é melhor que chorar"

Zeca, você foi meu primeiro amor
Você foi o monte belo da minha inocência
Mas agora, Zeca, acabou
Perdi toda minha a paciência

Eu bem que tentei resistir a dor dos anos
Mas o coração não sabe como se conta o tempo
Eu relevei todos teus desaforos
Mas a alma reinventa o esquecimento

Eu não paro mais o trânzito e não lamento
Eu levo este corpo de senhora acabada
Porque, um dia, eu levei teus rebentos
Hoje, Zeca, eu me contento em ser amada

Mas, ao invés de amor, Zeca, você só me dá amargura
Eu acabei de casar nosso último filho
Já chega, você não me segura
O meu resto de vida vai ter algum brilho

Dexei o dia combinado com a lavadeira
O telefone do médico tá na receita
Liga pra ele, no caso de dúvida
Adeus, Zeca, se cuida

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A frescura é que é legal

"Melhor que encontrar alguém com gostos parecidos, é encontrar alguém com idiotices parecidas".

Um amigo me disse uma vez que a gente precisa ser idiota pra se divertir, ninguém consegue se descontrair de
verdade se está levando o momento a sério.
Acho que também ninguém consegue ser feliz se levar a si muito a sério, se viver sob a expectativa de acertos e
vitórias o tempo todo.
Acho, ainda, que todo mundo tem sua frescura, sua idiotice, seu tempero, aquela coisa que define a gente e não tem
utilidade nenhuma... Acho essa à coisa mais legal que existe nas pessoas. Isso porque é sobre essa coisa que a gente
fala com mais tesão, é essa coisa que nos traz brilho aos olhos, frescor na voz, presença real de espírito.
E quando a gente encontra alguém que tem esse mesmo tempero! Nossa, que coisa gostosa! A conversa parece que flui,
o tempo se transforma em mero coadjuvante e passa desapercebido, que compromissos que nada, dane-se a novela, eu posso
estudar depois, eu não me importo de passar conversando mais de 3 horas no telefone, com tanto que seja com você.
Essas pessoas normalmente estão nos momentos mais bonitos na nossa vida, são chamados de melhores amigos, de
paixões... Quer acabar com uma amizade eou com um namoro? Comece a levar a coisa a sério, perde um pouco da graça mesmo,
deve ser por isso que essas lembranças normalmente ficam na adolescência, na infância, nas férias, nos finais de semana,
é quando a gente não faz e não tem cobranças, momento de ser idiota e, mesmo assim, ser a pessoa mais importante do
mundo.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eu dou para o meu marido

"Nossa, mas que gesto lindo" (Dessa fdp eu lembro o nome, mas não vou publicar não)

Quando perdi a visão eu precisei fazer reabilitação, braile fazia parte dela, eu tive dois professores, um fazia
questão de me ensinar tudo certinho, tim tim por tim tim, o segundo me ensinava aquilo que chamava de "coisas que você
vai levar pro resto da vida".
A lição mais importante que eu tive quando estava aprendendo braile foi que o cego, ao perder a visão, perde o
pinto também. Eu nunca tive um pinto, então não me preocupei muito com isso. Eu me sinto a respeito das minhas aulas de
braile da mesma maneira que eu me senti uma vez a respeito das aulas de matemática do primário... a professora sempre
dizia "aprenda, porque você vai precisar um dia", mas eu era feliz demais para cogitar a hipótese de que um dia minha
vida seria tão chata para precisar de uma coisa daquelas.
Confesso que ainda não aprendi a lidar com a imagem de santa que as pessoas inventam em mim, como se eu fosse,
realmente, de alguma forma, assexuada. mais estranho tem sido assistir a reação cheia de espanto e admiração de alguns
ao saberem que sou casada com um cara sem problemas de visão, como se ele estivesse fazendo uma boa ação para conseguir
um lugarzinho no céu.
Eu não amadureci nesse sentido... então a minha intenção ao ouvir essas calamidades é a mais infantil do mundo,
uma coisa grita dentro de mim [só dentro, tá]: eu dou pro meu marido! E eu até gosto!

Bonitinha é a mãe

"Quer uma comidinha, quer?" (Não lembro o nome da fdp)

Fui assistir o Diogo Portugal com aquele cara cego que eu não lembro o nome, mas cujo jargão é "ceguinho é amãe", quase
me parti de tanto dar risada, foi praticamente um exorcismo ouvir o cara falar tudo que fica parado aqui na garganta.
Ele não é o stand up mais talentoso, mas eu gostaria que o trabalho dele fosse mais divulgado no meu nicho de
convivência, não por mim é claro, porque se fosse por mim a minha paciência esgotaria no quinto pedido de desculpas.
Teve um episódio de House MD que a temática foi, diretamente, o contrato social firmado por nós para preservarmos
os outros de nós mesmos e sermos preservados pelos outros do que eles são, o verbo ser no sentido de pensar, naquele
episódio eu vi a ambiguidade da minha moralidade/falta de moralidade destrinchada, assumindo que moralidade presume
honestidade, que por sua vez presume verdade... infelizmente quando as pessoas me tratam como criança ou retardada por
não enxergar, se eu for verdadeira e ferir o contrato social as únicas palavras que vão sair da minha boca são uma
combinação intensa e demorada das palavras: vai; tomar; no; cú.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Merda

"Acontece..." (Carlos Eduardo)
Como se não fosse pieguisse o suficiente o nome que escolhi para o blog, decidi publicar meu primeiro post com uma das
lições mais filosóficas que já aprendi com minha mãe.
Morei com minha família numa casa alugada, não sei o porquê, mas certo dia brotou merda do ralo do banheiro... merda...
merda... merda... merda que saía do ralo, merda que cubria o tapetinho de bolinhas de borracha super cafona do piso de
dentro do Box, merda que se encruvinhou na canaleta do Box, merda que arrastou/cobriu a toalha enchuga pés, os tapetes
cafonas do vaso sanitário e do balcão da pia, merda que empurrou o cesto de lixo... então parou.
Quando minha mãe viu aquela merda toda ficou tomada por uma mistura absurda de emoções, sentiu nojo, ficou chateada,
enfurecida, achou um pouco de graça e tantas outras emoções que não fez questão de demonstrar. A primeira providência
que ela tomou foi ligar para o meu pai e cobrar os devidos porquês, quens, e quandos... conversa terminada o óbvio era
desligaro telefone... telefone no gancho, o óbvio era sair da sala (eu contei que ela estava na sala?)... fora da sala,
o óbvio era ir em direção ao banheiro... aproximando-se do banheiro, o óbvio era levar a mão a boca e ao nariz e fechar
os olhos... a porta do banheiro o óbvio era abrir os olhos...
Caro leitor, substitua as reticências por nojo.
Em fim, o óbvio foi por a mão na massa, digo, merda.
Minha querida mãe, minha heroína, a mulher que me deu a luz da vida, que me amamentou, que não admite a casa, a própria
empresa, os filhos e o marido menos do que impecáveis, a mulher digna de toda a minha admiração estava com as mãos e pés
mergulhados num monte de merda.
Eu não intensionei em momento algum ajudar, mas ofereci ajuda por educação, ela negou precisar de qualquer ajuda, muito
pelo contrário, recusou qualquer interferência, isso incluía o som de qualquer voz ou presença de qualquer pessoa,
ordenou que eu saísse e cuidasse de meus próprios assuntos.
Voltei naquela noite, tanto o banheiro quanto minha mãe estavam impecáveis, ela tratou de jogar fora aquilo que tinha
que jogar, limpou a sujeira, meu pai levou o proficional para concertar o que devia concertar e entrou em contato com a
proprietária da casa.
Fomos jantar fora, quem visse a minha mãe, linda, cheirosa e bem humorada era incapaz de conceber qual foi o dia dela.
É claro que eu tive alguma dificuldade para encarar o banheiro outra vez... também passei a nutrir alguma antipatia pela
dona da casa, ffui educada com base no bom cuidado do lar e de si. Demorei a esquecer o episódio, eu apenas assisti e
senti como se o trauma fosse meu, como o assunto já estava resolvido, não voltei a falar a respeito.
Tudo isso aconteceu a muitos anos atrás, porém a recordação passou a ser lição para mim apenas a alguns meses. Tive uma
manhã péssima, mesmo antes de chegar a empresa onde trabalho, ouvi uma notícia ruim atrás da outra sobre quase todos
aspectos da minha vida. Eu estava chateada, então liguei para minha mentora, o que ela disse foi o seguinte: “o dia está
lindo hoje, não desista dele”.