sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eu dou para o meu marido

"Nossa, mas que gesto lindo" (Dessa fdp eu lembro o nome, mas não vou publicar não)

Quando perdi a visão eu precisei fazer reabilitação, braile fazia parte dela, eu tive dois professores, um fazia
questão de me ensinar tudo certinho, tim tim por tim tim, o segundo me ensinava aquilo que chamava de "coisas que você
vai levar pro resto da vida".
A lição mais importante que eu tive quando estava aprendendo braile foi que o cego, ao perder a visão, perde o
pinto também. Eu nunca tive um pinto, então não me preocupei muito com isso. Eu me sinto a respeito das minhas aulas de
braile da mesma maneira que eu me senti uma vez a respeito das aulas de matemática do primário... a professora sempre
dizia "aprenda, porque você vai precisar um dia", mas eu era feliz demais para cogitar a hipótese de que um dia minha
vida seria tão chata para precisar de uma coisa daquelas.
Confesso que ainda não aprendi a lidar com a imagem de santa que as pessoas inventam em mim, como se eu fosse,
realmente, de alguma forma, assexuada. mais estranho tem sido assistir a reação cheia de espanto e admiração de alguns
ao saberem que sou casada com um cara sem problemas de visão, como se ele estivesse fazendo uma boa ação para conseguir
um lugarzinho no céu.
Eu não amadureci nesse sentido... então a minha intenção ao ouvir essas calamidades é a mais infantil do mundo,
uma coisa grita dentro de mim [só dentro, tá]: eu dou pro meu marido! E eu até gosto!

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