sábado, 15 de janeiro de 2011

Merda

"Acontece..." (Carlos Eduardo)
Como se não fosse pieguisse o suficiente o nome que escolhi para o blog, decidi publicar meu primeiro post com uma das
lições mais filosóficas que já aprendi com minha mãe.
Morei com minha família numa casa alugada, não sei o porquê, mas certo dia brotou merda do ralo do banheiro... merda...
merda... merda... merda que saía do ralo, merda que cubria o tapetinho de bolinhas de borracha super cafona do piso de
dentro do Box, merda que se encruvinhou na canaleta do Box, merda que arrastou/cobriu a toalha enchuga pés, os tapetes
cafonas do vaso sanitário e do balcão da pia, merda que empurrou o cesto de lixo... então parou.
Quando minha mãe viu aquela merda toda ficou tomada por uma mistura absurda de emoções, sentiu nojo, ficou chateada,
enfurecida, achou um pouco de graça e tantas outras emoções que não fez questão de demonstrar. A primeira providência
que ela tomou foi ligar para o meu pai e cobrar os devidos porquês, quens, e quandos... conversa terminada o óbvio era
desligaro telefone... telefone no gancho, o óbvio era sair da sala (eu contei que ela estava na sala?)... fora da sala,
o óbvio era ir em direção ao banheiro... aproximando-se do banheiro, o óbvio era levar a mão a boca e ao nariz e fechar
os olhos... a porta do banheiro o óbvio era abrir os olhos...
Caro leitor, substitua as reticências por nojo.
Em fim, o óbvio foi por a mão na massa, digo, merda.
Minha querida mãe, minha heroína, a mulher que me deu a luz da vida, que me amamentou, que não admite a casa, a própria
empresa, os filhos e o marido menos do que impecáveis, a mulher digna de toda a minha admiração estava com as mãos e pés
mergulhados num monte de merda.
Eu não intensionei em momento algum ajudar, mas ofereci ajuda por educação, ela negou precisar de qualquer ajuda, muito
pelo contrário, recusou qualquer interferência, isso incluía o som de qualquer voz ou presença de qualquer pessoa,
ordenou que eu saísse e cuidasse de meus próprios assuntos.
Voltei naquela noite, tanto o banheiro quanto minha mãe estavam impecáveis, ela tratou de jogar fora aquilo que tinha
que jogar, limpou a sujeira, meu pai levou o proficional para concertar o que devia concertar e entrou em contato com a
proprietária da casa.
Fomos jantar fora, quem visse a minha mãe, linda, cheirosa e bem humorada era incapaz de conceber qual foi o dia dela.
É claro que eu tive alguma dificuldade para encarar o banheiro outra vez... também passei a nutrir alguma antipatia pela
dona da casa, ffui educada com base no bom cuidado do lar e de si. Demorei a esquecer o episódio, eu apenas assisti e
senti como se o trauma fosse meu, como o assunto já estava resolvido, não voltei a falar a respeito.
Tudo isso aconteceu a muitos anos atrás, porém a recordação passou a ser lição para mim apenas a alguns meses. Tive uma
manhã péssima, mesmo antes de chegar a empresa onde trabalho, ouvi uma notícia ruim atrás da outra sobre quase todos
aspectos da minha vida. Eu estava chateada, então liguei para minha mentora, o que ela disse foi o seguinte: “o dia está
lindo hoje, não desista dele”.

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