sexta-feira, 2 de setembro de 2011

15 minutos

Às vezes parece que as dificuldades me moldam. Mas às vezes, só às vezes, parece que sou eu quem molda as
dificuldades.

Aprendi muitas coisas com a cegueira, como, por exemplo, contar até 10 antes de falar; valorizar as qualidades e
compreender as imcompatibilidades; respeitar a história de cada um; entender que há diferença entre esperança, fé e
amor... Há ainda muitas outras, mas eu preciso de mais palavras para expressá-las.

Fui apresentada à receita dos bons 15 minutos não faz lá muito tempo. É bem simples, ficar a sós, em paz, e deixar
corpo, mente e coração descansar. Ela não foi apresentada dessa forma a mim, mas foi assim que eu interpretei.
Para ficar a sós e em paz tento cumprir com as obrigações que estão pendentes, cumprir com as responsabilidades
que assumi, assim diminuo a possibilidade de ser interrompida por outras pessoas e deixo a minha consciência tranqüila.
É claro que nem sempre é possível colocar meu mundo em ordem, quando não dá, coloco os tais que estão pendentes numa
sacola, fecho-a, e deixo-a do lado de fora do quarto.
Então, um a um, vou largando os pesos, aliviando meus ombros dos compromissos, da culpa, da frustração, da mágoa,
do medo.
Vou despregando as placas de condições para ser feliz. Eu retiro do meu quadro de vida a lista de objetivos, as
estatísticas, os gráficos de possibilidades, as equações de previsões, os estudos de caso dos outros, os meus estudos de
caso, as comprovações, todo e qualquer sentido.
Vou até meu velho e surrado baú de sonhos, dentre os brinquedos estragados, as invenções incompletas, lá no fundo,
pego minha caixa de impossíveis.
Abro minha caixinha, lá dentro tem um monte de recortes de Jéssica. Uma Géssica sorrindo de olhos bem abertos
olhando sorridente para a câmera. Outra com um lápis na mão, concentrada, fazendo o desenho de uma paisagem. Outra numa
foto 3x4 colada numa CNH. Uma também sorridente, jogando bola, brincando com os amigos na chuva. Uma Géssica jogadora de
basquete, foto tirada enquanto a bola ainda estava no ar indo a direção a cesta...
Pego meus cacos de sonho e colo cada um no meu quadro, nesse mundo que invento eu não sinto dor, o Sol não me faz
mal, os dias chuvosos não me deixam insegura, eu não uso remédios, não preciso explicar pra ninguém a diferença entre
problemas nos olhos, nos ouvidos e no cérebro, faço toda e qualquer coisa sozinha sem limitação física e... Eu posso
ver.

Ah vai, só 15 minutos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário